Guerras sempre foram causa de migrações. Assim era nos tempos dos Romanos, quando parte dos exércitos colonizava os territórios conquistados, e parte dos povos derrotados voltava a Roma como escravos. As famosas guerras Napoleônicas tiveram efeito semelhante, disseminando a população e a cultura francesas mundo afora.
Quando Napoleão perdeu a guerra em 1815 e foi desterrado para morrer na ilha de Santa Helena, seus seguidores e soldados passaram a ser perseguidos. Não lhes restava outra alternativa a não ser a migração. Assim aconteceu com Mathias, alferes e guarda pessoal de Napoleão, que a seu lado lutara todas as batalhas e a elas sobrevivera. Juntou, então, a família, esposa e cinco filhos e pegou a onda migratória para o Brasil. Veio parar em Dois Irmãos, no interior do Rio Grande do Sul. Como os terrenos doados pelo governo eram maiores além do morro, se estabeleceu numa minúscula vila chamada Walachai. Ali, graças a sua formação militar, construiu uma casa fortificada, cercada de palanques e com buracos através dos quais podia disparar seu bacamarte. Isso porque havia bugres nas redondezas disputando seu território. Criou também um sistema de alarme que consistia de uma matilha de 25 cachorros que uivavam em uníssono quando estimulada pelo toque do berrante acionado pelo seu dono, o que provocava a debandada dos bugres. Por isso, ficou conhecido como o coronel dos 25 cachorros.
Mathias foi também um dos organizadores dos colonos alemães de São Leopoldo, na busca de segurança e na perseguição de seus objetivos. Ali criou sua família e seus descendentes povoaram o Rio Grande do Sul.
Hoje se observa uma migração reversa, ou seja, os descendentes europeus voltam a seus países de origem. Munidos de passaportes de cidadania europeia, vão em busca da realização dos seus sonhos, armados não de bacamartes, mas sim de ideias e de esperança.
Mathias foi meu tataravô e a história da minha família começa quando Napoleão perdeu a guerra.