Quando Napoleão perdeu a guerra

Ciro José Mombach, médico. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Guerras sempre foram causa de migrações. Assim era nos tem­pos dos Romanos, quando parte dos exércitos colonizava os terri­tórios conquistados, e parte dos povos derrotados voltava a Roma como escravos. As famosas guer­ras Napoleônicas tiveram efeito semelhante, disseminando a po­pulação e a cultura francesas mundo afora.

Quando Napoleão perdeu a guerra em 1815 e foi desterra­do para morrer na ilha de Santa Helena, seus seguidores e solda­dos passaram a ser perseguidos. Não lhes restava outra alterna­tiva a não ser a migração. Assim aconteceu com Mathias, alferes e guarda pessoal de Napoleão, que a seu lado lutara todas as bata­lhas e a elas sobrevivera. Juntou, então, a família, esposa e cinco filhos e pegou a onda migratória para o Brasil. Veio parar em Dois Irmãos, no interior do Rio Gran­de do Sul. Como os terrenos do­ados pelo governo eram maiores além do morro, se estabeleceu numa minúscula vila chamada Walachai. Ali, graças a sua for­mação militar, construiu uma casa fortificada, cercada de pa­lanques e com buracos através dos quais podia disparar seu ba­camarte. Isso porque havia bu­gres nas redondezas disputando seu território. Criou também um sistema de alarme que consistia de uma matilha de 25 cachorros que uivavam em uníssono quan­do estimulada pelo toque do ber­rante acionado pelo seu dono, o que provocava a debandada dos bugres. Por isso, ficou conhecido como o coronel dos 25 cachorros.

Mathias foi também um dos organizadores dos colonos ale­mães de São Leopoldo, na busca de segurança e na perseguição de seus objetivos. Ali criou sua família e seus descendentes po­voaram o Rio Grande do Sul.

Hoje se observa uma migra­ção reversa, ou seja, os descen­dentes europeus voltam a seus países de origem. Munidos de passaportes de cidadania euro­peia, vão em busca da realização dos seus sonhos, armados não de bacamartes, mas sim de ideias e de esperança.

Mathias foi meu tataravô e a história da minha família come­ça quando Napoleão perdeu a guerra.

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