O pertencimento gaúcho: uma crônica de união

Gustavo Jaccottet, advogado. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Não é novidade que a mobilização que tomou conta do Brasil impactou profundamente o sentimento dos gaúchos em contraste ao pertencimento a uma comunidade transcendente às fronteiras do Estado. Num Fiat Lux, sentiu-se parte da comunidade brasileira. Harmonizou-se o regionalismo, tão valorizado por nós, e a união sob a bandeira verde, amarela, azul e branca.

Por muito tempo, o gaúcho cultivou um sentimento simples e familiar de ser “primeiro gaúcho, depois descendente de italiano, alemão…, e só então brasileiro”. Esse senso de identidade, que sempre foi motivo de orgulho, se alterava de forma confusa na época da Copa do Mundo, só para ser ignorado logo em seguida. Mas algo mudou, e, felizmente, tenho a leve sensação de que é para melhor.

As tradições e valores culturais do Rio Grande do Sul ganharam novo significado e expressão dentro do contexto mais amplo do Brasil. A união em torno desses símbolos nacionais não enfraquece o regionalismo gaúcho; pelo contrário, parece fortalecê-lo.
Em uma via de mão dupla, os brasileiros também passaram a reconhecer seu pertencimento à comunidade gaúcha. A letra do nosso hino se espalhou pelo país, e as façanhas que eram “apenas nossas” agora servem de exemplo para todos. A canção do maestro Júnior exemplifica poeticamente essa fusão: “Verde, amarelo, azul e branco / Forma o pavilhão do meu país / O verde toma conta do meu canto / O amarelo, azul e branco / Fazem o meu povo feliz / E o meu povo toma conta do cenário / Faz vibrar o meu canário”. Essas palavras capturam o sentimento que se espalhou entre os gaúchos, onde a bandeira nacional é celebrada com o mesmo fervor que o orgulho regional.

Essa mobilização trouxe uma nova compreensão de pertencimento, onde o gaúcho não precisa abandonar suas raízes para se sentir parte de algo maior. A integração sob a bandeira brasileira enriquece a identidade gaúcha, acrescentando significado e solidariedade nacional. Em tempos de crise ou celebração, a união e o respeito pelas diferenças regionais podem fortalecer a coesão social e a identidade nacional.

O reconhecimento do gaúcho dentro do mosaico brasileiro contribui para uma nação mais unida e forte. Essa síntese de regionalismo e patriotismo serve de inspiração para outras regiões do Brasil, mostrando que a diversidade cultural é uma força, e não uma fraqueza. Para as gerações futuras, esse exemplo deve ser não só tomado como norte, mas também aperfeiçoado.

Gustavo Jaccottet
Advogado

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