A real morte acontece no relacionamento amoroso quando o beijo não é mais tão molhado, não existe o encostar na cama, que dirá um abraço apertado.
A real morte acontece nas amizades quando há comparações egoístas, desculpas de um dia vamos nos encontrar, no vácuo da conversa antes prazerosa e da falta de visitas.
A real morte acontece em solitude, quando o Eros de cada um se suicida todos os dias ao amanhecer, pois nem a luz do sol dá mais libido para correr atrás dos sonhos e obstáculos a vencer.
A real morte acontece quando deixamos de manifestar os nossos desejos e entramos por vontade própria no loop desgastante chamado rotina, dando voz aos medos e ouvidos à sina.
A real morte acontece no olhar distante dos seus filhos quando o encantamento pelo aparelho celular os tornou “eu sou, sim, um robô” robôs ansiosos e aflitos na busca de atenção e amor.
A real morte existe e é palpável quando as sombras de uma vida amarga e orgulhosa são mais expressivas que um pedido de perdão da pessoa lamentosa.
A real morte acontece quando visitamos os nossos pais muito mais em seus túmulos do que visitamos em vida, e mais tarde vemos em nós a mesma cena repetida.
A real morte acontece, existe, é palpável e invisível. Muitos não a veem, não a percebem, muitos já se foram com ela, lamentável desperdício. Jogamos no abismo nossa sensibilidade humana e damos desculpas esfarrapadas como se fossem ossos do ofício.
Na psicanálise, chamamos de pulsão de morte o componente psíquico puramente primitivo, destrutivo e hostil presentes nos seres humanos, amplificado pela falta de significação da vida e o latejar constante do fim.
Por Vanessa Avencurt – Terapeuta