Existe a real morte em tudo, não apenas da vida física

Vanessa Avencurt - Terapeuta. (Foto: Divulgação)

A real morte acontece no relaciona­mento amoroso quando o beijo não é mais tão molhado, não existe o encostar na cama, que dirá um abraço apertado.

A real morte acontece nas amizades quando há comparações egoístas, desculpas de um dia vamos nos encontrar, no vácuo da conversa antes prazerosa e da falta de visitas.

A real morte acontece em solitude, quando o Eros de cada um se suicida todos os dias ao amanhecer, pois nem a luz do sol dá mais libido para correr atrás dos sonhos e obstáculos a vencer.

A real morte acontece quando deixa­mos de manifestar os nossos desejos e en­tramos por vontade própria no loop desgas­tante chamado rotina, dando voz aos medos e ouvidos à sina.

A real morte acontece no olhar distan­te dos seus filhos quando o encantamento pelo aparelho celular os tornou “eu sou, sim, um robô” robôs ansiosos e aflitos na busca de atenção e amor.

A real morte existe e é palpável quando as sombras de uma vida amarga e orgulhosa são mais expressivas que um pedido de per­dão da pessoa lamentosa.

A real morte acontece quando visitamos os nossos pais muito mais em seus túmulos do que visitamos em vida, e mais tarde vemos em nós a mesma cena repetida.

A real morte acontece, existe, é palpável e invisível. Muitos não a veem, não a perce­bem, muitos já se foram com ela, lamentá­vel desperdício. Jogamos no abismo nossa sensibilidade humana e damos desculpas esfarrapadas como se fossem ossos do ofício.

Na psicanálise, chamamos de pulsão de morte o componente psíquico puramen­te primitivo, destrutivo e hostil presentes nos seres humanos, amplificado pela falta de sig­nificação da vida e o latejar constante do fim.

Por Vanessa Avencurt – Terapeuta

Enviar comentário

Envie um comentário!
Digite o seu nome