Fazer Perguntas Certas

Dom Jacinto Bergmann. Foto: Divulgação

Tenho refletido muito, durante o tempo da pandemia, sobre a necessidade de fazer perguntas e de fazer perguntas certas. Muitas respostas, e as vezes até respostas diametralmente opostas, foram e são dadas. Dar respostas é bom e necessário. Mas devemos aprender continuamente a fazer perguntas e perguntas certas. O resultado disso é também respostas sempre mais certas. A propósito, o grande literato alemão, Oscar Wilde, tem uma afirmação lapidar: “Todo mundo é capaz de dar respostas, mas é preciso um gênio para fazer perguntas certas”! Qual a necessária genialidade para fazer as perguntas certas a partir e com a pandemia da COVID19? Aqui não pretendo dar as respostas certas à pergunta das perguntas certas. Essa genialidade não possuo e tenho ciência disso, porém ouso lançar algumas perguntas que devemos fazer a partir e com a pandemia.

Quais as perguntas, nesta situação pandêmica, que nós devemos fazer em relação a existência humana? Basta perguntar sobre as necessidades imediatas que surgem a cada dia? Ou devemos também perguntar sobre a necessidade mais profunda de nosso ser? Nós não somos feitos apenas para viver o imediato, mas o eterno. Basta perguntar sobre os possíveis fracassos e sucessos pessoais que a vida nos impõe? Ou devemos também perguntar sobre o sentido maior da vocação humana? Nós não fomos feitos apenas para o fracasso e sucesso, mas a realização de uma vocação. Basta perguntar sobre os cuidados que o nosso corpo necessita? Ou devemos também perguntar sobre o sentido maior da corporalidade “feita de barro com o influxo de Deus” (cf. Gn 2)? Nós não fomos feitos apenas como “barro”, mas com o “influxo do Deus Criador”. Basta perguntar sobre os sentidos transitórios de nossa existência? Ou devemos também perguntar sobre o sentido eterno da nossa existência? Nós não somos feitos apenas para a realização transitória, mas para uma plenitude eterna.

Quais perguntas, nesta situação pandêmica, que nós devemos fazer em relação ao relacionamento familiar? Basta perguntar sobre os cuidados de saúde essenciais dos membros da família? Ou devemos também perguntar sobre a responsabilidade de uma saúde maior sob o ponto de vista de Deus-família? Nós não somos feitos apenas para a saúde do corpo, mas para a saúde do corpo e da alma. Basta perguntar sobre os possíveis fracassos e sucessos materiais dos membros da família? Ou devemos também perguntar sobre a realização total sob o ponto de vista de Deus-amor? Nós não somos feitos apenas para o sucesso material, mas para o amor, a doação e a partilha. Basta perguntar sobre a necessidade dos bens materiais da família? Ou devemos também perguntar sobre o amor, a doação, a partilha – elementos intrínsecos da família? Nós não fomos feitos apenas para a matéria, mas para o amor? Basta perguntar sobre a conveniência estrutural familiar? Ou devemos também perguntar sobre o sentido sonhado por Deus para sermos, como família, o seu sinal de família trinitária no meio da humanidade? Nós não somos feitos apenas para a conveniência familiar, mas como reflexos do Deus-amor.

Quais as perguntas, nessa situação pandêmica, que nós devemos fazer em relação à convivência social? Basta perguntar sobre os cuidados de uma economia sustentável para toda a sociedade planetária? Ou devemos também perguntar sobre uma economia solidária, partilhada, justa que visa o verdadeiro bem comum de todos os povos? Nós não fomos feitos apenas para acumular e esbanjar, mas para compartilhar. Basta perguntar sobre os possíveis fracassos ou sucessos técnicos e científicos que a inteligência do ser humano proporciona? Ou devemos também perguntar sobre uma não infabilidade como criaturas abertas ao Deus criador? Nós não fomos feitos apenas com inteligência, mas com sabedoria. Basta perguntar sobre os cuidados da preservação da espécie humana e da Casa Comum? Ou devemos também perguntar sobre o sentido pleno da humanidade como uma civilização do amor que sabe cuidar de tudo o que vem do Deus-Criador? Nós não fomos feitos apenas para preservar, mas para cuidar. Basta perguntar sobre a conveniência social da civilização humana? Ou devemos também perguntar sobre o sentido maior de sermos uma civilização humana “criada à imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn,1)! Nós não fomos feitos para disputar poder – “homo lupus homini”, mas para servir-nos mutuamente.

Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas

 

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