A primeira vez que fomos a Roma foi um desastre. Erro número um: chegamos dirigindo o carro alugado e tínhamos o endereço do hotel. Ao chegar no Grande Raccordo Anulare, uma espécie de Rodoanel que cerca Roma, minha navegadora olhava e olhava o mapa.
Naquela época não existia GPS e não se decidia que direção tomar. Até que uma alma caridosa viu nosso aperto e seguiu com seu carro nos indicando o caminho até a rua do hotel.
O segundo erro foi ter contado a minha mulher a seguinte história, fruto de uma consulta a um amigo viajante, a respeito de dicas sobre Roma. Me contou ele: “Pela manhã, saímos do hotel e fomos cercados por um bando de ciganas. Gritavam ‘Saraievo, Saraievo’ e uma delas me esfregava um jornal no nariz. As expulsamos, mas ao me apalpar, notei que no bolso não estava minha carteira. Subi ao quarto achando que lá a esquecera e nada. Só então me dei conta que as ciganas tinham me roubado”.
Esse relato despertou em minha mulher uma paranoia inimaginável. Cada quadra que caminhávamos me fazia perguntar ao “polizia” se era seguro o local. Tão grande era o seu pavor que ali só ficamos um dia. Na segunda vez, o voo atrasou e chegamos do aeroporto Fiomucino ao Termini às 23h45. Da estação de trem ao táxi foram poucos passos. Estávamos avisados pela revista Viagem e Turismo que havia táxis sem taxímetro que eram piratas. Quando vi que não tinha, perguntei pelo equipamento e aleguei que ele não era táxi de verdade. O homem ficou possesso e jogou nossas malas no meio da rua. Caminhamos, então, quase 2 km arrastando as malas até os táxis de verdade. Minha mulher, que tem um GPS alemão na cabeça, percebeu que o motorista passou três vezes pelo mesmo local e que, na verdade, o hotel era bem próximo do Termini.
Dia seguinte, foi um city tour com um guia espanhol mal-humorado. Era um dia de verão, com um calor insuportável. Paramos próximo a uma fonte natural que vertia água da qual o guia se serviu com a mão. Perguntei, então, se a água era potável. Pergunta besta, resposta irada: “tu acha que eu sou um cavalo?”. Me ressenti do coice e durante o resto do tour não perguntei mais nada.
Nessa segunda visita nos demos conta que a cidade, na verdade, é muito segura. Vimos mulheres dirigindo com o braço para fora e cheias de joias, que se fosse aqui, ficariam sem o braço. Na época, se conseguia chegar na Fontana di Trevi, sentar na sua borda e lá descansar ouvindo o barulhinho da água. Hoje, há um cerca filas que serpenteia por quilômetros. Fizemos as vistas turísticas costumeiras: Coliseu, Vaticano, Via Ápia e Catacumbas, Castelo Sant’Angelo, Piazzas del Popolo, Espagna e Navona. Andamos felizes e relaxados em todo tipo de transporte público.
Enfim, conseguimos deixar para traz a paranoia do “Saraievo, Saraievo”.
Por Ciro J. Mombach
Médico