
Recomendar um livro para crianças que pode perdurar nas bibliotecas de famílias e escolas não é difícil. Difícil é ler “Felpo Filva”, de Eva Furnari, e não se tornar fã da “arquiteta do avesso”, a grande Eva Furnari.
Nascida em Roma, paulistana desde os dois anos, Eva primeiro foi arquiteta; logo depois, professora de Artes no Museu Lasar Segall. De cartunista e ilustradora para escritora foi um “cocô de passarinho”! A Moderna, uma editora inteligente, a descobriu e abraçou; hoje, seus livros estão lá e circular pelo site lendo delicadezas sobre Eva e suas obras é possível…
Em 2015, em um grande evento de literatura aqui no Rio Grande do Sul, conheci Eva. Abraçada em um de seus livros, esperei pacientemente o fim da conferência para declarar a ela o quanto seus/suas personagens – ela, em cada um/uma delas/es – me faziam companhia nas aulas de Literatura para a Pedagogia.
Eva Furnari criou Felpo – um coelho poeta que, maltratado na infância por ter uma orelha mais curta que outra e vítima de pais que o queriam igual aos demais filhotes, vive recluso em sua toca e ignora todas as cartas que seus leitores insistem em enviar. Até que um dia…
Toda história realmente começa quando nos revela o que ocorreu nesse dia. E Eva não se furta: ela conta. Como em “Rozaspina” – lançado recentemente na Livraria da Vila, em São Paulo – no qual segredos guardados por uma avó são conhecidos nas 360 páginas repletas de mistério, suspense e magia, ou seja, elementos da mais qualificada arte literária!
Quando Felpo Filva não resiste à curiosidade que um envelope grande, lilás e amarrado com um laço de fita de cetim lhe chega pelas mãos do carteiro, sua vida de solitário entre em risco. Ao abri-lo, nos conta Eva, Charlô Paspatu – a charmosa leitora e admiradora de Felpo – utiliza-se de toda a genialidade da autora para contrariar o poeta. Indignado com a petulância da desconhecida, Felpo amassa e joga fora a carta. Descarta – no lixo – a carta. O assunto, não.
E quem pode ler/ouvir essa história? Crianças desde os cinco, seis anos, se encantam com Felpo e suas peripécias. Porta para a literatura de Eva Furnari, depois de ler Felpo, vais querer conhecer Sorumbática, Pandolfo Bereba, Zuzu, os Gorgonzola, Grômio, o Gato Miú, Cacoete e Rumboldo. Mas não só. De variados tipos físicos e psicológicos e com ideias e sentimentos que têm a propriedade de perdurar na memória das/os leitoras/es, as personagens de Furnari estão prontinhas a serem desvendados.
Se há conflito entre a ideia de que a literatura corrompe ou edifica, como argumenta Antonio Candido em “O direito à literatura”, é inegável que ela “humaniza em sentido profundo, porque faz viver”. Ler Eva Furnari – parte da literatura que temos – é, com certeza, um bom modo de viver!
Por Cristina Maria Rosa
Pedagoga