Em março completaram 33 anos do Plano Collor, feito no bojo de um conjunto de cinco planos econômicos com objetivos diversos, iniciando pela busca do equilíbrio das contas externas e culminando com o combate inflacionário. Muito embora todos eles tivessem objetivos importantes, como a recuperação econômica, também trouxeram consigo amargas consequências. E de todos eles o Plano Collor foi, sem dúvida, o que trouxe as piores, especialmente por atingir, dentro da cadeia do agronegócio, a comercialização da produção por meio das cooperativas, o pulmão do sistema.
Para cada segmento cooperativo produziu distintas consequências e, naquelas cadeias onde a agregação de valor era menor, produziu efeitos menores, mas em segmentos como o setor laneiro, em que a construção teve início, no ano de 1944, sucedendo-se a uma organização composta por beneficiamento das lãs, com lavagem/cardagem/penteagem, mercados, fornecimento de insumos e classificação das lãs, auxiliadas por vultosas linhas de credito de comercialização, cujo ciclo se encerrava no período de marco a junho, sendo esta uma das razoes do impacto mais forte no setor laneiro.
Como consequência desse impacto, 22 das 25 cooperativas quebraram, inclusas todas as que beneficiavam lãs ao sistema. Com isso, perdemos o mercado interno e o que restou foi retornar aos moldes anteriores ao ano de 44, quando vendíamos as nossas lãs ao Uruguai – que as exportava. Ao aderir a um modelo de comercialização onde estamos exportando a impureza, sem nenhuma agregação de valor e colocando um intermediário na cadeia, estávamos seguindo um caminho cheio de fragilidades; e a pandemia do Coronavírus nada mais fez do que mostrá-los. La se foram mais de 30 anos… Deveríamos ter acordado antes? Sim, mas as dificuldades das três cooperativas que sobraram foram muitas, a exemplo da ausência de lavadoras e de crédito, além da dilapidação do patrimônio para se manterem vivas e, por último e mais grave, perdemos a cultura da lã. Atualmente, quando se pede uma peça de lã, num estabelecimento comercial, o atendente lhe entrega algodão com sintético.
Enquanto isso, perduram na justiça ações que deveriam reparar os danos do Plano Collor, mas que correm contra o tempo para salvar as três últimas cooperativas até que a exaustão de seu patrimônio ocorra. O que temos é que lamentar que o ‘ouro branco’, a mais organizada cadeia produtiva que já se viu neste estado, que anualmente apoiava as entidades assistenciais das comunidades, composta na imensa maioria de pequenos produtores, atingindo mais de 100 mil famílias gaúchas, esteja lutando contra o tempo, enquanto vê caminhões de lixo transportando lãs para aterros sanitários.
Édison Iunes Ferreira
Presidente da Cooperativa de Lãs Mauá, em Jaguarão