Os cardeais

Ciro José Mombach, médico. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Ave de extrema beleza, cuja principal característica é o topete eriçado de um vermelho intenso, que invade também o peito em ambos os sexos. As partes inferiores são acinzentadas, os olhos são marrons escuros, as pernas são negras e a região ventral é esbranquiçada. Possuem um canto alto e metálico.

Pois descobrimos um ninho de cardeais avistado da nossa sacada. Os ovinhos já estavam postos quando começamos a acompanhar o trabalho do casal. Macho e fêmea se alternavam na choca com frequência. Foram muito atrapalhados pelos temporais com ventos fortes, chuva intensa, demorada e até granizo. Achamos que tinham perdido a ninhada pelas ausências forçadas devido às intempéries. Mas eles não desistiram e em duas semanas, para nossa alegria, assistimos os pais dando comidinha na boca do pelado filhote.

Os cardeais, seja pela bela plumagem ou pelo canto sonoro, são alvo frequente de captura para comércio ilegal ou para deleite próprio. São, então, colocados em gaiolas ou viveiros e, na maioria das vezes, cercados de cuidados e mimos, porém, privados do bem maior: a liberdade.

O nosso filhote se emplumou e coloriu sua crista em duas semanas, após intenso vai e vem dos pais trazendo guloseimas que eram depositadas em sua boca. Começou, então, a espichar uma asa, depois a outra, se espreguiçando lentamente. No dia seguinte, de pé na beira do ninho, começou a bater asas de forma coordenada e vigorosa. Dois dias depois levantou voo. Primeiro, até uma árvore próxima e, algum tempo depois, em um voo longo, alto e decidido, desapareceu para não mais voltar. Ficou o ninho vazio. Mas os pais não se entristeceram, ao contrário, começaram a cantar com a alegria da missão cumprida.

Os humanos se assemelham aos cardeais. Pai e mãe envolvidos desde a gravidez, depois os balbucios, primeiros passos, creche, escola, faculdade, formatura. Muito trabalho e empenho para que a tarefa seja bem sucedida. Alguns filhotes, seja por serem criados em gaiolas de ouro, ou zelo, não querem deixar o ninho. Outros levantam voo, mas não conseguem atingir altura ou alcance e retornam ao aconchego do lar, papai e mamãe tudo provêm.

O ninho vazio para os humanos tem uma conotação de tristeza e afastamento e afeta alguns de maneira bem intensa.

No entanto, como com os cardeais, se considera a missão cumprida quando os filhotes levantam altos voos, batendo asas para bem longe dos bem sucedidos pais…

Por Ciro J. Mombach

Médico

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