O gosto pelas coisas simples

Cristina Maria Rosa. Pedagoga, doutora em Educação, escritora e patronesse da 49ª Feira do Livro de Pelotas. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Já leste Selma, de Jutta Bauer? Quando intenciono reunir argu­mentos para indicar sua fruição, lembro, sempre, do escritor minei­ro conhecido por Vermelho Amargo.

Um manifesto é um modo de falar. E de escrever. É, também, um modo de ser/estar no mundo. Bartolomeu, o escritor sempre es­perado em eventos onde o apaixo­namento por livros tinha lugar, no Manifesto por um Brasil Literá­rio (2009), declarou que “a leitu­ra literária é um direito de todos”. Mais. Afirmou que este preceito “ainda não está escrito”. Quando ouvi, fiquei pensando: só deman­damos algo quando já documen­tado? Bartolomeu escreveu outras muitas genialidades. E, não sei se leu Selma. Eu li, e te conto…

Jutta Bauer, a autora e ilustra­dora de Selma, vive em Hamburgo e, por seu trabalho, tem mereci­do vários prêmios. Não por aca­so… Com tradução de Marcus Ma­zzari, a edição de Selma, no Brasil, ocorreu em 2008 pela Cosac Naify. Cem gramas de papel em formato paisagem contém 56 páginas em onze centímetros de altura por quinze de largura.

Sim, é um livrinho…

Não dentro.

Quando o abrimos, folheamos, observamos, um turbilhão de sen­sações – advindas das ilustrações, das palavras ali presentes e do ro­teiro – invade nosso anterior modo de pensar. Isso torna Selma, imen­so. Ou, imensurável! Esta palavra pode ser empregada para livros que têm como resultado, o silên­cio – contemplativo, extasiado, fi­losófico, até.

Durante.

E após…

Selma é considerado um livro de literatura. É vendido como um livro de literatura infantil. Alguns o nomeiam como uma narrativa; outros, como uma novela. Um que outro, fábula. Eu o chamo de arte literária. Há traduções de Selma em muitos idiomas, e podes esco­lher em qual delas ler.

A primeira vez que li Selma foi em uma livraria. Penso que foi em Belo Horizonte. Teria sido na Qui­xote, a preferida de Bartolomeu Campos de Queirós? Me abracei na obra e saí com ela. Não me con­tinha! Havia um barulho intenso dentro de mim…

Hoje, lamento não ter comprado muitos exemplares. Meu único, tra­tado como artefato precioso, com o ir e vir de aulas, palestras, viagens, desapareceu. Um dia, saí com e vol­tei sem. Para tê-lo novamente em minha biblioteca, tive que buscá-lo em outras línguas, pois a editora brasileira já não mais existe.

Ao ler Selma em aulas de lei­tura literária na Universidade, não raro, ouvia de estudantes presentes: – Não vivo mais sem este livro! Incomodados com o es­tranhamento e a sensação de in­completude que Selma tem dei­xado, alguns destes, ainda hoje, o mencionam como o melhor e mais importante livro lido em suas vidas.

Se leres Selma, vais entender…

Por Cristina Maria Rosa

Pedagoga, Doutora em Edu­cação, é autora de Onde está Meu ABC de Erico Verissimo? Notas so­bre um livro desaparecido (2013)

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