
Estamos entrando em uma nova fase de sofrimento no Sul do país. Após um período difícil com o fenômeno El Niño, que nos atingiu com muita intensidade no último ano, começamos a sentir o impacto de outro fenômeno climático devastador, dessa vez o La Niña.
De acordo com a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos), o evento já está oficialmente entre nós e deve durar até abril deste ano. Parece pouco tempo, mas as mudanças no funcionamento do nosso sistema de vida podem trazer consequências dramáticas. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno pode causar redução de chuvas na região sul do Brasil, tanto na quantidade quanto na frequência, havendo possibilidade de alguns períodos longos sem precipitações.
Algo há muito tempo conhecido por aqui, pois estamos mais acostumados a lidar com os períodos secos do que com cheias e chuvas torrenciais que geram alagamentos. O calor extremo e a estiagem prolongada parecem atingir uma área maior a cada novo ciclo do fenômeno e, provavelmente, isso tem forte relacionamento com a mudança do padrão climático global.
O fato é que vamos viver mais uma rodada de prejuízos, sobretudo nos campos, com perdas de lavouras e animais, com forte impacto na nossa economia, levando o governo a pedir ajuda para compensar as perdas. Infelizmente, apesar de ser um conhecido de longa data, ainda não estamos preparados para os extremos de calor e falta de chuvas, nem no campo, tampouco na cidade.
Falta reservação de água, cuidado com as nascentes, com a cobertura ciliar dos corpos hídricos, com as árvores que fazem sombra na área urbana. Precisamos entender que clima é consequência e que não basta concentrar todos os esforços em sistemas de alertas, em infraestruturas faraônicas e desconectadas do planejamento, que mais tem cara de iniciativa política do que técnica.
É preciso rever os hábitos, as práticas e as formas de fazer. Se não tivermos mais responsabilidade envolvida nas nossas decisões do dia a dia, não adianta, não será sustentável e não vamos sobreviver.
Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo e professor