E, aí guria?

Querida, você sabe onde é o seu lugar? Com certeza você já viu nas redes sociais: dez maneiras para ser feliz; cinco passos para sair da depressão; desperte o amor do seu homem; conquiste sua dependência financeira, mas a mulher é um ser formidável, como tudo que é complexo. Quase nunca se sente completa e ainda está em busca do respeito para impor suas convicções, desejos e pensamentos.

Durante as sessões de terapia realizadas com mulheres de diferentes temperamentos, me confrontei com a sombra do ser narcisista de carteirinha. Aquele que faz todas as suas vitimas usarem pérolas, pérolas de dor. Dor porque se tornaram mulheres feridas, fora de si, sujeitas e humilhadas. Entre muitas histórias que já ouvi vieram muitas indagações de como e o porquê de manterem uma relação com a presença do mal.

A facilidade em que elas permitiram que eles entrassem nas suas vidas. Um psicopata social, mas até onde sei, dentro desses casos, eles não eram assassinos do corpo, mas assassinos de alma. Antes dos questionamentos, porque temos todo o direito de questionar como psicanalistas, mas nunca de julgar, sou grata porque hoje é mais fácil abrirmos um alerta sobre esse assunto.

Há uma grande coincidência em todos os casos, todas se sentem culpadas, muitas vezes tão transtornadas que se culpam até pela própria existência, se culpam por ter nascido mulher, sentem nojo de si mesmas, e isso sem ter uma pré-disposição para a melancolia ou depressão. Algo destrutivo é despertado nelas ao conviver com o narcisista. Freud, explica, mas meu mestre não consegue curar a dependência emocional, ele apenas a mostra, identifica e então, nos ensina a lidar com essa emoção.

Durante o tratamento terapêutico com as vítimas, tive que sair de mim e enfrentar uma luta intensa, um desgaste mental e dor física, pois também, como mulher, não somente as compreendi, mas convivi com os seus dilemas. Bem no inicio deste texto, quando lemos sobre achar o nosso lugar, quis dizer, achar o nosso lugar como mulher e compreendo que o nosso lugar é dentro de cada uma. E, é tão difícil voltar para nós, após um trauma. Retomar o nosso lugar depois de viver uma relação tóxica.

Se você vive uma vida inteira dentro de uma casa, sabendo o lugar de cada coisa, os móveis, os cômodos, você consegue entrar nesta casa até quando está escuro, pois você sabe bem o lugar onde está tudo, e quando entra na casa vai direto para a chave da luz. A luz a ilumina, e você então, começa a enxergar e fica tranquila, pois está em casa, na sua casa, na sua vida, dentro de você mesma. Mas como fazer quando não encontra a chave da luz, não reconhece a casa, não se sente no seu lugar, tudo é estranho. Você sai tropeçando em tudo, se machucando, caindo, se levantando, talvez tão machucada que precise de ajuda. Então, eis me aqui.

Vanessa Avencurt, psicanalista e graduada em Letras pela Universidade Federal de pelotas (UFPel).

 

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