Aprendendo a fumar

Ciro José Mombach, médico. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Éramos dois adolescentes em férias em Tramandaí. Víamos com admiração nossos amigos da mesma idade que fumavam. Não tínhamos coragem nem dinheiro para comprar cigarros. Um expert no assunto nos sugeriu uma solução caseira: fazer um cachimbo de taquara. Ele seria repleto com o fumo de baganas recolhidas na rua. Nos pareceu uma boa ideia, já que tínhamos uma taquareira no pátio ao lado.

O trabalho demandou muita criatividade: achar a taquara com a bitola certa para o fornilho, cortar e adequar no tamanho correto com o serrote, desbastar o interior, perfurar a parede com prego aquecido na boca do fogão a gás. Achar uma taquarinha fina para servir de piteira, cortá-la com faca de pão e depois adaptar ao furo do fornilho. Inúmeras tentativas levaram finalmente ao sucesso.

Enchemos o cachimbo com os melhores fumos, meticulosamente escolhidos entre as baganas catadas. Acender a geringonça demandou meia caixa de fósforos. Nos acomodamos em cadeiras de praia, ao ar livre, longe do apurado nariz da mãe. O cachimbo passava de lá para cá, duas baforadas para cada um. Ficamos extasiados com o sucesso da empreitada — por três minutos. Foi quando a náusea começou, refletida na cor pálida esverdeada de nossas faces. Saímos correndo ao mesmo tempo em busca de uma moita pra batizar. E vomitamos sem parar.

A mãe estranhou o cheiro de fumaça e vômito, e tivemos que confessar. Ficamos desapontados com o resultado da experiência. O expert nos corrigiu só então, dizendo que “tinha que ter queimado o cachimbo primeiro”. Nenhum de nós se atreveu a tentar de novo.

Já na faculdade, persistia a moda de fumar. Estimulados pelos galãs que fumavam em Hollywood e pelos machões que tragavam Marlboro, não queríamos ficar para trás. Sem apreciar muito, comecei a fumar para fazer média com os colegas, mas, principalmente, com as colegas.

O professor Nelson Porto, saudoso pneumologista do pavilhão Pereira Filho, sepultou definitivamente a vontade de fumar.  Dizia ele em sua aula magistral: “Aqueles jovens, fumando em grupos e fazendo pose, levantando aquela nuvem de fumaça fedorenta, deixam no chão uma poça de catarro e vão tentar beijar as meninas com aquele hálito de cinzeiro”.  Isso me pareceu pior que as possíveis doenças.

Enfim, entre as fantasias de Hollywood e Marlboro e a crua realidade do professor Nelson Porto, prevaleceu a razão…

Por Ciro J. Mombach

Médico

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