Entre 21 e 23 de abril, a programação do terceiro Festival Cabobu vai contar com shows musicais, espetáculos de dança, feira de arte, exposições, oficinas e mesas redondas, destacando a música, a cultura e a contemporaneidade da arte afro sul-rio-grandense.
Os espaços que estão sendo preparados para o evento prestam homenagem às personalidades que marcam a realização do projeto CaBoBu na cidade gaúcha, bem como representativos defensores dos saberes tradicionais dos negros. São eles: Palco Giba Giba, Espaço Oficina Mestre Baptista, Espaço Mestra Griô Sirley Amaro, Ponto de Encontro Mestre Caloca. E ainda acontece a Feira Preta Helena do Sul.
O palco principal de espetáculos leva o nome de Giba Giba e vai ocupar o Largo do Mercado Público de Pelotas. O músico pelotense foi o precursor do uso do tambor de sopapo na sonoridade regional gaúcha, dos ritmos carnavalescos à percussão no que é considerada a MPG (música popular gaúcha), com repercussão nacional de sua produção artística. Falecido em 2014, Giba Giba foi o criador do Festival Cabobu, que nos anos 2000, estendeu-se ao projeto de construção e distribuição de tambores de sopapo em todo RS.
O feito do projeto Cabobu ao disponibilizar os tambores para escolas e instituições, fomentando seu reconhecimento como instrumento de resistência e arte negra, faz referência ao espaço reservado para as atividades formativas do Festival Cabobu. A proposta é realizar oficinas gratuitas de ritmos percussivos e de conservação de tambores, em salas da Secretaria de Cultura de Pelotas. Mestre Baptista (1936-2012) foi o luthier que confeccionou 40 sopapos para o projeto e é o homenageado no espaço.
Também recebe menção o músico percussionista Djalma Corrêa, grande incentivador do Festival, que faleceu em final de 2022. Djalma é Padrinho do Cabobu, tendo em vida aceitado o convite e que agora permanece em sua honra. Uma das oficinas será conduzida pelo coordenador pedagógico do evento, José Batista em homenagem à carreira de Djalma.
A proposta de reflexão e fomento de novas plateias do Festival Cabobu conta ainda com 3 dias de mesas redondas, tratando da presença e relevância da população negra na cultura, sociedade e arte, com mediação do coordenador pedagógico do Festival, José Batista. Localizado na Bibliotheca Pública Pelotense, o espaço das palestras leva o nome da Mestre Griô Sirley Amaro. Matriarca de uma representativa família de artistas e produtores de cultura de Pelotas, Sirley (1936-2020) professou a importância dos saberes e fazeres negros, desde a costura à contação de histórias, reverenciando a ancestralidade africana, a memória oral e a transmissão de conhecimentos.
Nesse sentido, o Festival participa da visão do Natura Musical, uma vez que “o futuro que queremos construir é coletivo. Ele passa por momentos de tensão, mas, com a música, somos capazes de chegar a um lugar comum, respeitando a diversidade. Os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados por Natura Musical trazem a mensagem de que o futuro pode ser mais bonito com a música e com envolvimento de cada um de nós”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.
No evento, outros nomes importantes da cultura local serão também mencionados, como o Mestre Caloca, pelotense que ao lado de Giba Giba, fundou a Praiana, a primeira escola de Samba de Porto Alegre, e foi seu primeiro ensaiador. Caloca nomina o espaço de encontros oficial do Festival, que deve instalar-se ao lado da Praça Coronel Pedro Osório, no centro da cidade.
O evento ainda abriga a Feira Preta Helena do Sul. Escritora e pedagoga de Pelotas, Maria Helena Vargas da Silveira destacou-se nacionalmente pela defesa dos direitos educacionais anti-racistas. A Feira acontece em parceria com a FEMENI – Feira de Mulheres Empreendedoras Negras e Indígenas.
O Festival Cabobu foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Rio Grande do Sul (Pró-Cultura), contando ainda com apoio da Prefeitura municipal de Pelotas. O Natura Musical também reúne nessa edição Dessa Ferreira, Pâmela Amaro, Circuito Orelhas, Gravina DasMina e Feijoada Turmalina, por exemplo. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para 39 projetos até 2020, como Filipe Catto, Tem Preto no Sul, Borguetti e Yamandu, Zudizilla, Sons que Vem da Serra e Thiago Ramil.
A programação está sendo organizada para ocupar estes espaços, além de um cortejo pelas ruas da cidade, em respeito à religiosidade e às tradições africanas ancestrais e em homenagem ao músico Giba Giba, cujo tambor de sopapo estará presente no palco principal nos dias do evento.
Confira aqui a programação e temas dos debates e oficinas do Festival Cabobu:
Mesas Redondas – Espaço Mestra Griô Sirley Amaro
Dia 21/04 – sexta-feira
8h30 – Racismo Estrutural – Um Fenômeno A Ser Debatido
10h30 – As Relações Raciais No Brasil – A Convivência Entre Os Diferentes Grupos Raciais – O Mito Da Democracia – A violência e o feminicídio à mulheres negras cis, trans e indígenas
Dia 22/04 – sábado
8h30 – Charqueadas pelotenses: A omissão da realidade, impacto social e político nos dias atuais
10h30 – Políticas De Ações Afirmativas – A Partir Da Conferência De Durban 2021
(Cotas, Políticas Públicas, Na Cultura, Educação, Xenofobia e Gênero)
Dia 23/04 – domingo
8h30 – A Omissão Da Participação Das Culturas E Saberes Afrodescendentes Na Sociedade
10h30 – O Projeto Cabobu no Século XXI – Sua Extensão e Resultados Na Sociedade Gaúcha
Oficinas – Espaço Mestre Baptista
Dia 21 de abril – sexta-feira
14h – Oficina “Clínica de Introdução Geral de Percussão Afro Gaúcha e Afro Brasileira”, com o Mestre Griô, diretor musical do Grupo de Música e Dança Afro-Sul e coordenador do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomode, Paulo Romeo Deodoro.
Dia 22 de abril – sábado
13h30 – Oficina “Ecos de um Tambor – Fabricando Tambor de Sopapo”, com os professores Maurício Polidori e Rogério Gutierrez.
15h30 – Oficina “A Percussão Aplicada na Harmonia Musical – Se Me Bater, Eu Grito, Se Me Tocar, Eu Canto”!, uma homenagem ao padrinho do evento, Djalma Corrêa, orientada pelo coordenador pedagógico do Festival, José Batista.
Dia 23 de abril – domingo
13h30 – Oficina “Percussão Para Crianças, Adolescentes e Adultos – Coordenação Motora, Funcionamento dos Instrumentos e Aprendendo a Tocar”, com o Mestre Paulinho.
15h30 – Oficina “Os Processos da Construção do Tambor Sopapo, História e Ancestralidade”, com Mestre Griô Dilermando Freitas.
Estes eventos necessitam de inscrição prévia, que pode ser realizado nos links:
Mesas redondas: https://forms.gle/aDnR4E28BzQS6D969
Oficina: https://forms.gle/TsCBnFWoqXH1ZKHm8