O futebol é uma arte que encanta pessoas desde a sua invenção. Mas é preciso saber encantar através do futebol e são poucos os que dominam esta arte. Alguns jogadores já conseguiram usando o talento, a sabedoria e a sutileza. Celso Guimarães é desse time, um atleta que soube tratar a bola e encantar torcedores em um contexto bem mais rústico do que a atualidade futebolística em qualquer contexto.
Quem conhece Guimarães sabe que sua origem foi o futebol de salão, também conhecido como futsal, e daí para os gramados a partir das categorias de base do Esporte Clube Pelotas, no ano de 1975 até ser profissionalizado, em 1977. A partir de então, o futebolista seguiu uma carreira de vários protagonismos nos gramados do Rio Grande do Sul e até fora do Estado, com as camisetas do Lobão, Novo Hamburgo, Juventude e Grêmio Esportivo Brasil. Guimarães atuou pelo Xavante em 1982, disputando clássicos Bra-Pel, com uma vitória e uma derrota, e até gol marcou sobre o Lobão. Profissionalismo é isso.
Nos anos 1980, a carreira de Guimarães foi de momentos marcantes na sua vida esportiva. Ele estava no elenco áureo-cerúleo de grande campanha e acesso ao Gauchão de 1984 após o rebaixamento em 1980. O ponteiro-direito estava no time azul e amarelo de craques, como Ademir Alcântara e o goleiro Juarez, dentre outros, todos sob o comando do glorioso Paulo de Souza Lobo, o Galego. E Guimarães foi um dos goleadores do campeonato. O acesso chegou antes do fim do campeonato em uma vitória que teve gol seu, de falta, em Passo Fundo diante do 14 de Julho. Ou seja, quando os lobos encantaram o futebol gaúcho nos anos 1980, o Guimarães estava no time.
No retorno azul e amarelo à Primeira Divisão de 1984, foram 19 partidas, com 15 vitórias, três empates e apenas uma derrota. O Pelotas marcou 36 gols e sofreu apenas 11. Os artilheiros foram Dóia e Celso Guimarães, com nove e oito gols marcados, respectivamente.
A partida que garantiu o Pelotas na primeira divisão, válida pela penúltima rodada, foi disputada no dia 14 de dezembro, no Estádio Vermelhão da Serra, em Passo Fundo, quando com gols de Dóia e Guimarães, o Pelotas fez 2 a 0 no 14 de Julho e comemorou distante do seu torcedor o retorno para a Série A. Mas a festa mesmo aconteceu na avenida Bento Gonçalves, quando a torcida recebeu seus atletas como verdadeiros heróis no retorno da delegação à cidade. Antes do fim, ainda deu tempo de o torcedor ver de perto os seus campeões, no dia 7 de dezembro, uma quarta-feira à noite. Na ocasião, o Pelotas fez 3 a 0 no 14 de Julho de Livramento, fechando com chave de ouro a competição.
A vida futebolística profissional de Guimarães ainda teve passagens pelo Guarani de Bagé e o Grêmio Atlético Farroupilha, tempos de amizades dentro e fora dos gramados. Mas os melhores e inesquecíveis momentos sempre foram nos clássicos, como em um Bra-Pel no Seletivo, em 1977, o primeiro como profissional e com a camisa do Pelotas, o terceiro da disputa. Apesar da derrota áureo-cerúlea (Bra-Pel do pênalti perdido por Torino), Guimarães jogou muito. Outras duas lembranças de confrontos com o coirmão são do ano 1984, vencido pelo Lobo, 1 a 0 na Boca, e 1 a 1 na Baixada: Ademir Alcântara marcou os gols do Pelotas, um após escanteio cobrado por Guimarães. “Sempre me superei nos clássicos”, recorda o ex-craque da camisa 7, lembrando que não marcou muitos gols na sua carreira. Sempre foi o que preparou o gol para os companheiros.
Em 1987, teve uma passagem pelo futebol paulista defendendo o Araçatuba. “Tenho boas lembranças do futebol, principalmente de quando estava jogando. Fiz boas amizades e sempre respeitei as pessoas”, disse o homem que é uma referência esportiva não só em Pelotas e interior gaúcho, mas em todo o Estado, que driblou adversários e os deixou para trás junto com ranços do mundo futebolístico.
Na Princesa do Sul, todos sabem da ligação afetiva de Guimarães com o Esporte Clube Pelotas, mas o mútuo respeito fortalece a admiração pelo jogador-referência nas cores por ele defendidas durante sua carreira.
A grandeza do cidadão Celso Guimarães esteve presente publicamente no sepultamento do amigo e parceiro Ramiro Curi de Lemos, ex-presidente e sempre colaborador do Grêmio Esportivo Brasil, em agosto de 2022. Guimarães vestia uma camiseta do clube rubro-negro. Mais um momento especial na vida do hoje empresário, aos 66 anos.