
Um dos 11 títulos endereçados a crianças escrito por Erico Verissimo e editado pela Livraria do Globo em 1939, A vida do Elefante Basílio é um livro de aventura.
Nascida em Porto Alegre no século 19, a Globo da rua da Praia integra um dos capítulos mais emblemáticos da história do universo editorial brasileiro e foi nela que Erico tornou-se o mais lido escritor do Rio Grande do Sul. E o mais vendido. Para se ter uma ideia, A vida do elefante Basílio – 10 mil exemplares na primeira tiragem e mais 7 mil em 1944 – é parte desse fenômeno de aceitação do escritor em um tempo que poucos eram leitores.
Na capital ainda se avista, encimando o prédio onde foi a Livraria, a escultura em ferro com a imagem de uma mulher, um menino com o globo terrestre e a frase em latim “urbi et orbi”. A inscrição que entregava, em 1883, o projeto à cidade e ao mundo é, ao mesmo tempo, auspício e prenúncio de seus idealizadores: Barcellos, depois Bertaso. A seção editora, que alavancou a carreira de muitos, entre eles Verissimo e Quintana, é narrada como uma ideia de Vargas acerca de uma “revista daqui”. É na Revista do Globo que, hoje, se conhece parte da produção de todos esses escritores que gostamos de dizer “nossos”.
E é nesse contexto que um grupo de narrativas curtas, aventurescas, inusitadas e endereçadas a crianças são publicadas. Assim, o nascimento de um elefante gorducho e lustroso em uma “manhã de sol do dia 26 de setembro do ano de mil novecentos e não sei quanto” (Verissimo, 1939), em Bengala, na Índia, passa a fazer parte dos saberes literários dos “pitocos” que, nas manhãs de sábado, acorriam à Globo da Rua da Praia, onde fervilhava uma Porto Alegre urbana, informada, adulta e politizada.
Ao ter em mãos o texto de Verissimo, leitores descobriam que um velho crocodilo sem dentes observa o recém-nascido como um “petisco gostoso” e que a Naja, com sua “língua de forquilha”, também deseja sua “carninha macia”. Na aventura, Basílio é descendente de “tataravós das tataravós, dos bisavós dos avós, dos tataravós dos trisavós, dos tataravós dos bisavós, dos avós do tataravô” que, com Noé e em sua Arca, se salvou do dilúvio. Nada mais é preciso para encantar crianças!
Esse exercício de legados e heranças indica a potência do pensamento criativo de Erico, um adulto que experimentara recentemente o nascimento de seus filhos. Certo de que os leitores acabariam “apaixonados pelo Elefante Basílio”, o autor nos entrega um clássico. E se um “clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”, como afirma Ítalo Calvino, A vida do elefante Basílio, de Erico Verissimo, ainda tem muito a legar às crianças do século 21.
Por Cristina Maria Rosa
Pedagoga
Excelente dica! Obrigada.
Obrigada a ti, Érica!