Após 58 dias de paralisação, está suspensa a greve do magistério público estadual. A categoria decidiu encerrar o movimento em Assembleia Geral na tarde da última terça-feira (14), no pátio do Colégio Estadual Cândido José de Godói, instituição 100% em greve desde o início da mobilização.
“Voltamos à sala de aula para preservar o salário da categoria e pelo compromisso com estudantes e a comunidade escolar. Ao contrário de Eduardo Leite, nós temos responsabilidade com nossos alunos. Saímos de cabeça erguida, para retribuir à sociedade todo o apoio e carinho prestado a nossa luta”, afirma a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer.
A votação entre a suspensão ou continuidade foi realizada em urna, com 725 votos a favor do encerramento e 593 contra. A deliberação aprovada inclui a exigência do pagamento dos dias parados e a construção de um calendário de mobilização para derrotar o pacote de Leite.
Antes de discutir a suspensão, os presentes rejeitaram a proposta de acordo de greve do governo, que previa o pagamento dos dias parados mediante a recuperação das aulas e o posterior desconto dos valores ao longo de seis meses.
A presidente classificou a proposta como indecente. “Vamos recuperar as aulas e encerrar o ano letivo. Mas queremos o que é nosso por direito: o salário pelos serviços prestados sem qualquer desconto. Não somos escravos para trabalhar de graça”, pontua Helenir. “Foi a maior greve dos últimos 30 anos. Abalamos as estruturas do estado, e forçamos o governo a recuar diversas vezes. Agora é hora de reaglutinar forças e se preparar a continuidade da luta”, concluiu.
A luta continua
Caso o governo convoque os deputados em sessão extraordinária no dia 27, a categoria realizará um ato estadual com instalação de acampamento e paralisação nos dias de votação.
Os educadores(as) também devem aproveitar o retorno à sala de aula para debater com os colegas, direções, estudantes e pais, retomar a pressão sobre políticos locais e mobilizar a resistência contra o pacote.
Greve histórica
Deflagrada no dia 18 de novembro por salário em dia e a retirada dos projetos de destruição dos serviços públicos, a greve foi a maior das últimas décadas e colocou a educação no centro do debate público.
Mais de 80% da categoria cruzou os braços ao longo do período e cerca de 1.530 escolas fecharam as portas total ou parcialmente, incluindo diversas instituições que aderiram pela primeira vez na história.
Outra característica peculiar foi o amplo apoio social e institucional, registrando atos massivos em todo o Rio Grande do Sul com a presença de pais e estudantes, o suporte de entidades como a Famurs e um total de 299 moções de apoio aprovadas em Câmaras de Vereadores.
A força da greve e a pressão sobre a base aliada de Leite levou ao adiamento da votação da maior parte do pacote. Mesmo o PLC 503, único aprovado em dezembro, sofreu sensíveis alterações no plenário.
A proposta de alteração do Plano de Carreira do Magistério também passa por mudanças e sua apreciação na Assembleia ainda é uma incógnita. Sem a greve, o texto original teria sido aprovado com consequências brutais para a categoria.