O capitalismo mata de diversas maneiras

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Desde segunda-feira (19), boa parte da população mundial teve sua atenção voltada para as notícias sobre a cápsula submersível da empresa OceanGate, que faz expedições até os destroços do navio Titanic, que estão a cerca de 600 km da costa do Canadá. A pequena cápsula desceu no último domingo, com cinco pessoas a bordo, em direção ao Titanic, que está no fundo do Oceano Atlântico a 3,8 km da superfície. Pouco depois da cápsula começar a descer, não houve mais contato com o navio-base que a levara até o local da expedição e aguardaria o seu retorno.

A falta de contato a 3,8 km de profundidade é normal. Contudo, passaram-se as oito horas consideradas o tempo padrão da expedição, já realizada em outras oportunidades para a visita e produção de imagens, e nenhum sinal do paradeiro da cápsula. As guardas costeiras dos Estados Unidos e do Canadá começaram as operações de busca e resgate.

Apesar de todos os esforços empreendidos por diversos países, a Guarda Costeira dos Estados Unidos informou, no início da tarde da última quinta-feira (22), que encontrou os destroços da cápsula na área de buscas. Momentos depois, a empresa OceanGate confirmou a morte dos cinco tripulantes.

Quem eram os passageiros?

Shahzada Dawood, empresário paquistanês e vice-presidente de um dos maiores conglomerados do Paquistão, a Engro Corporation, que tem investimentos em fertilizantes, fabricação de veículos, energia e tecnologias digitais. Ele vivia no Reino Unido com a mulher e dois filhos.

Suleman Dawood, filho do empresário paquistanês Shahzada Dawood, que também morreu na expedição.

Hamish Harding era um bilionário fundador e atual presidente da Action Aviation, uma empresa especializada em serviços de aviação e aeroespaciais. Ele estudou ciências naturais e engenharia química em Cambridge. Harding é aviador (ele tem licença de piloto de transporte aéreo também de jatos) e paraquedista. No passado trabalhou em uma empresa de turismo que levava pessoas à Antártica e fez muitas viagens ao Polo Sul. Em 2022, viajou com a empresa Blue Origin, de Jeff Bezos, para o espaço.

Paul-Henry Nargeolet também estaria no submarino, segundo o “The Guardian” e a BBC. Nargeolet foi ex-comandante da Marinha Francesa e considerado o principal especialista no naufrágio do Titanic. O francês também era diretor de pesquisa subaquática de uma empresa que detém os direitos sobre os destroços do Titanic.

Stockton Rush foi diretor-executivo e co-fundador da OceanGate, a empresa privada que opera embarcações submersíveis para exploração e turismo em alto-mar, como esta realizada nos destroços do Titanic. Rush participou do desenvolvimento das embarcações submersíveis da OceanGate, incluindo o Titan, o submarino que desapareceu. Como executivo, ele é a principal autoridade da empresa para as operações, direção estratégica e parcerias.

Cada um dos passageiros pagou cerca de US$ 250 mil (R$ 1,19 milhão) por um lugar na expedição para ver os destroços do navio que naufragou em 1912.

Todos, milionários ou bilionários, em busca de aventura, acabaram morrendo! O dinheiro permite comprar tudo o que o homem é capaz de inventar e o homem inventa porque tem quem compre suas invenções, até mesmo quando há risco de perder a própria vida.

O CAPITALISMO MATA DE DIVERSAS MANEIRAS

No Brasil, o capitalismo mata de diversas formas. Entretanto, vamos nos deter nas mortes causadas pelos desastres naturais. A falta de moradias em locais seguros leva milhões de brasileiros a construírem casas em locais vulneráveis, como zonas alagadiças, encostas de morros e outros locais onde jamais poderiam existir tais construções.

Estes locais são o retrato de um Brasil com uma das maiores desigualdades sociais do mundo. Pessoas residentes nestes locais vivem experiências de intranquilidade permanente, pois muitos já perderam familiares, que morreram levados pelas águas das enchentes ou soterrados pelas chuvas que descem o morro levando terra, lama e tudo o que há pela frente.

O CAPITALISMO MATA DE DIVERSAS MANEIRAS

Voltando ao cenário internacional, é impossível não lembrar de outros países em guerra ou com conflitos internos que geram medo, fome e miséria, fazendo com que outros milhões de seres humanos se aventurem nas águas do planeta, na condição de refugiados, buscando um lugar apenas com paz e comida.
Quantos refugiados morreram em embarcações que naufragaram em diversas partes do mundo?

Todas as mortes que citamos aqui na coluna tem origem no excesso ou na falta do dinheiro, do capital. Com isso, vale lembrar que, para cada bilionário que morre em alguma aventura excêntrica, morrem milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade que se obrigam a “aventurarem-se” para salvar a própria vida.

Enviar comentário

Envie um comentário!
Digite o seu nome