O jornalista Léo Batista faleceu no último domingo, 19 de janeiro, aos 92 anos. Léo havia sido diagnosticado com um tumor no pâncreas e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Rios D’Or, no Rio de Janeiro.
A notícia sobre a morte de Léo Batista foi pauta em todos os meios de comunicação do país. O locutor que iniciou nos serviços de alto-falantes na praça de Cordeirópolis, sua terra natal, foi pioneiro em tudo o que fez na Rede Globo.
O Léo do rádio, da televisão e do esporte tornou-se a “voz marcante”, apelido carinhoso criado pelo narrador Luiz Roberto.
A voz, a capacidade de improviso e outros atributos de Léo Batista valorizavam o jornalismo, as narrações e os programas esportivos, onde a essência estava na comunicação humana, individual e peculiar do apresentador.
Léo Batista, Cid Moreira, dentre outros, viveram e foram arquitetos de um jornalismo no qual a credibilidade de uma notícia tinha um avalista humano com nome e sobrenome. O locutor-apresentador, através da voz, da interpretação e de sua postura profissional e pessoal conferia uma identidade à produção e dimensão da notícia, estabelecendo laços afetivos com os ouvintes e os telespectadores.
Estes laços garantiam confiança e credibilidade à notícia – tanto de uma tragédia que causa dor e consternação quanto da conquista da Copa do Mundo, que provoca euforia e alegria. Por tudo isso, os feitos de Léo Batista são celebrados, relembrados e entram para a história do rádio e, principalmente, do jornalismo esportivo da TV brasileira.
Aproveitemos todos, alguns para reviver e outros para conhecer as histórias do “seu Léo”. Tempo em que o jornalismo era humanizado e confiável, produzido por profissionais que se tornam cada vez mais espécies em extinção.
A palavra é extinção! Vivemos um tempo em que os jornalistas que primam pela discussão dos fatos e questionam as pseudoverdades disseminadas são coagidos em duas frentes: primeiro pelos veículos de comunicação em que trabalham e segundo pelos ouvintes, telespectadores e leitores.
Caros leitores, percebam a cadeia de coação que afasta o jornalismo de uma análise mais profunda sobre os fatos e que produz novas verdades a partir da informação. Os jornalistas são coagidos pelas empresas de comunicação e as empresas são coagidas pelo mercado, pelo capitalismo, uma vez que precisam cumprir múltiplos papeis, dentre eles informar, pagar as contas e obter lucro.
Sendo assim, os jornalistas “sobreviventes” são coagidos pelas empresas, que por sua vez são coagidas pelo poder econômico, político e pela população que se apropria de notícias falsas nas redes sociais – lugar onde ninguém é responsável pela informação. Esta população atua coagindo os jornalistas que não contemplam seus interesses ideológicos, políticos e econômicos.
Este cenário faz o jornalismo pedir socorro às ciências humanas para compreender o que acontece no Brasil, onde surgiram diversas “categorias de jornalismo” como:
- a) A categoria do jornalismo enviesado, de direita e de esquerda, cada um defendendo suas pautas e conversando exclusivamente com quem pensa de modo semelhante, demonstrando a incapacidade de estabelecer diálogo com quem pensa diferente;
- b) A categoria de jornalismo capitalista e político, em que o ganho de capital é o mais importante, no qual a informação é descritiva e não analítica, e o profissional não cria laços com os receptores da notícia, podendo ser descartado a qualquer momento ou até substituído pela inteligência artificial.
Estas categorias nos afastam da busca pela verdade e tornam-se determinantes para a prevalência de um modelo de notícia descritiva, que não questiona, não propõe o debate e elimina qualquer alternativa analítica, falando para um determinado público o que ele quer ouvir.
Isso nos afasta da discussão científica e civilizatória, criando um campo de batalha no qual não são as metralhadoras e os tanque de guerra que têm força, mas sim as redes sociais que, na ausência do jornalismo analítico, entram na mente dos seres humanos criando conceitos ou alimentando os já existentes. Tais conceitos produzem a sensação de aceitação daquele indivíduo por um coletivo que age e pensa da mesma forma. Assim, as notícias e informações produzidas nas redes passam a determinar o comportamento das pessoas, que se transformam em robôs que não duvidam daquela informação, mesmo sem conhecer a origem. Voltaremos ao assunto!
Por fim, cumpre-me o dever registrar a feliz e grata declaração de que nunca fui coagido intelectualmente no Jornal Tradição Regional ou na Rádio Tupanci. Seguimos!
Ainda estou aqui
Como podem ver, o jornalista que vos fala não foi substituído pela inteligência artificial ou pelas redes sociais e ainda está aqui – inclusive para falar deste filme que faz história no cinema brasileiro e mundial, mas em outra oportunidade. Até!