Mudanças climáticas e IX Sari

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Nesta edição, a coluna conta com a inestimável contribuição da advogada, estudiosa das questões ambientais e mestranda em Relações Internacionais, Giulia Viapiana Corrêa.

Mudanças climáticas

A onda de calor extremo que tomou conta do Rio Grande do Sul nas duas últimas semanas faz crescer o alerta sobre os impactos das mudanças climáticas na vida da população.

Uma pesquisa encomendada por empresas do setor energético e realizada pelo Datafolha demonstrou que 34% dos brasileiros não sabem o que são as mudanças climáticas. Nas classes D e E, 54% da população se considera mal informada sobre o assunto.

Consecutivamente, ano após ano as pesquisas demonstram que o mundo está ficando mais quente. Assim, cada um dos anos mais quentes da história aconteceu na última década. O ano passado não foi diferente.

Entretanto, segundo a Organização Meteorológica Mundial, 2024 foi o primeiro ano civil a registrar um aumento de temperatura maior que o limite imposto pelo Acordo de Paris. O referido tratado internacional é um compromisso dos países de limitarem o aumento da temperatura a 1,5ºC com relação ao período pré-industrial, ou seja, antes de a humanidade começar a emitir os gases do efeito estufa, que aumentam a temperatura global. O ano passado registrou um aumento de 1,6ºC.

As mudanças climáticas já são uma realidade na nossa vida e elas não causam apenas o calor intenso, mas também o aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos e desastres naturais, que podem se manifestar de diversas maneiras, inclusive contraditórias, como enchentes ou secas prolongadas.

Nos últimos dias, Pelotas registrou sensação térmica de mais de 50ºC. Nas redes sociais, circularam vídeos de cones derretidos em Santa Maria e do asfalto amolecendo em Santa Catarina. Quaraí enfrentou temperaturas de 43,8ºC e, assim, o Rio Grande do Sul registrou suas maiores temperaturas em 115 anos, desde o início da coleta destes dados, em 1910.

Mitigar e adaptar: o que fazer?

Conviver com as mudanças climáticas não é uma escolha. Elas existem e já afetam diariamente a vida de todos nós, trabalhadores, alunos, idosos e de toda a população mais vulnerável.

No Rio Grande do Sul, o Tribunal de Justiça do Estado acolheu a liminar do CPERS e determinou o adiamento das aulas em razão da ausência de infraestrutura nas escolas para enfrentar o calor. Muitas não possuem sistema de ventilação e as que possuem ar condicionado, na maioria das vezes, não contam com estrutura elétrica para o regular funcionamento dos aparelhos.

No presente momento, apenas remediar não é o suficiente para diminuir os impactos da mudança do clima. A ciência nos aponta dois caminhos: mitigar e adaptar – o primeiro diz respeito à causa e o segundo aos efeitos. Para mitigar, é preciso reduzir até zerar as emissões dos gases de efeito estufa para que possamos limitar o aquecimento do planeta. Para adaptar, é fundamental desenvolver estratégias para diminuir os efeitos prejudiciais decorrentes das mudanças climáticas.

A importância da ciência

Em uma era de desprezo pela ciência e negacionismo, dentre eles o negacionismo climático, a primeira coisa a se fazer é instruir e informar a população sobre as mudanças climáticas e, para isso, a educação, por meio de escolas e universidades, é a aliada mais poderosa. Além da educação, a política tem um papel essencial neste processo, pois é competência dos governantes e legisladores a assinatura de tratados a elaboração de leis e planos para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e o fomento a estas discussões na estrutura do Estado.

Contudo, é preciso ir além de entender as causas, efeitos e soluções para as mudanças climáticas. É preciso compreender também como a conjuntura internacional – como, por exemplo, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris no governo Donald Trump – afeta a realidade global e, ainda, de cada país.

IX Sari

É por esse motivo, dentre tantos outros, que o curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) promove a 9ª edição da Semana Acadêmica de Relações Internacionais entre os dias 17 e 21 de fevereiro, sob o tema “Multipolaridade e Movimentos de Contestação no Sistema Internacional do Século XXI”.

Sob a orientação do prof. Dr. Rafael Rocha, os discentes organizam uma programação extensa para tratar dos temas mais atuais no cenário internacional.

O evento contará com a participação de palestrantes de renome nacional, como o prof. Dr. Rubens Duarte, da Escola de Comando e Estado Maior do Exército Brasileiro, a profª Drª Flávia Piovesan, jurista, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), e renome internacional, como o prof. Dr. Dattesh Parulekar, da GOA University (Índia), dentre outros professores e pesquisadores.

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