A proposta é: uma boa conversa entre os jovens, seus pais e professores.
É imprescindível lembrar os leitores que os fatos aqui narrados, tem como ponto de partida o período da adolescência do autor.
Há 45 anos, os adolescentes da época não tinham calças jeans ou tênis de marca, nossas mães compravam o tecido e a costureira, também chamada de modista, confeccionava as roupas de acordo com a moda e os costumes daquele período.
Brinquedos em sua maioria eram artesanais, inicialmente produzidos pelos mais velhos e aperfeiçoados pelos jovens.
Os carrinhos eram feitos com latas de óleo e equipados com rodas que surgiam do corte do cabo de vassoura, que era feito de madeira!
O jogo das 5 Marias apresentava duas versões, sendo uma de pedra, e quanto mais bruta melhor para recolher, situação em que as imperfeições tornavam-se favoráveis, pois a pedra polida escapava da mão.
A outra versão era de tecido, todas geometricamente do mesmo tamanho e preenchidas com areia ou arroz. Esta apresentava facilidade ou dificuldade dependendo do campo de jogo. Mesa de madeira ou piso de parquet eram ideais, num tapete a dificuldade era bem maior.
Na década de 70, bicicleta era artigo de luxo. Monark, Caloi e Odomo eram marcas que dominavam o mercado aqui na Zona Sul.
Amigos tínhamos em abundância, porque em sua grande maioria a condição socioeconômica era muito semelhante.
De um lado, uma pequena parcela da população, os ricos, proprietários de terras, de comércio e das indústrias, de outro lado a maioria da população, composta por famílias onde todos, crianças, mulheres e homens, compunham a classe trabalhadora.
Arroz, feijão e outros alimentos eram comprados em pequenas quantidades no armazém ou na venda, tudo embalado em papel manteiga. aliás, no armazém se encontrava de tudo, de alimentos a artigos de vestuário, assim como utilidades domésticas, camisas para lampiões e querosene para o fogareiro ou para a geladeira.
O armazém naquela época é o supermercado de hoje, a venda se caracterizava como um comércio de pequeno porte.
Neste período existia algo semelhante ao cartão de crédito, o caderno. O proprietário do armazém ou da venda abria um caderno para cada freguês, com direito ao nome na capa.
Ali as compras eram anotadas até o final do mês, quando o freguês recebia o salário e efetuava o pagamento. Contudo, desde aquela época, quando surgia um gasto inesperado, uma consulta médica ou compra de medicamentos para um filho, parte do valor devido no caderno ficava para pagar no mês seguinte. Foi nessa época que surgiu a pedalada fiscal.
Nas décadas de 80 e 90 vivemos os processos de mecanização do campo, a ampliação da indústria e criação de distritos industriais nas cidades e o crescimento do comércio, além do início da migração dos trabalhadores rurais para as cidades.
Nesse período surge a inflação, um efeito causado na economia que corroeu nossos sonhos, aumentou as desigualdades sociais e, como sempre, fez dos ricos, mais ricos que, através das aplicações no Overnight, aumentavam o valor aplicado em 30% a cada 24 horas, enquanto o salário do trabalhador era pago ao final de 30 dias de trabalho quando os preços haviam subido 900%.
Sobrevivemos a tudo isso e, ainda na década de 80, chegamos a um Brasil de expectativas, principalmente com a retomada do voto para presidente da república em eleições diretas.
Isso alimentou nossas expectativas e sonhos de um país melhor, mais desenvolvido e menos desigual.
Após o regime militar, o primeiro presidente eleito pelo povo de forma direta, com o voto que todos conhecemos hoje, governou dois anos e, envolvido em corrupção iria sofrer o impeachment, porém renunciou antes.
Na próxima edição continuaremos a contar um pouco da história a partir da eleição de Fernando Collor de Mello.
Para os jovens que não conhecem as 5 Marias eis aqui a imagem.