Fascismo – 2ª parte

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Para quem ouve falar e não sabe o que é, desejo contribuir para o esclarecimento dos leitores, compartilhando parte da leitura que fiz do livro “O Fascismo Eterno”, escrito por Umberto Eco, onde o autor descreve características do fascismo italiano.

Dando sequência à segunda parte do conteúdo sobre as características do fascismo apresentadas pelo autor Umberto Eco, destacamos a seguinte manifestação: “nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas. O espírito crítico opera distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica percebe o desacordo como instrumento de avanço dos conhecimentos. Ponto para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição”.

“O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e busca o consenso utilizando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que está se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição”.

Quando o autor cita a frustração individual ou social, cabe lembrar que a população da Alemanha vivia um período de baixa estima, pois o Império Alemão, arrasado pela Primeira Guerra Mundial se rendeu após uma revolução que culminou com o fim da monarquia alemã, ambiente que se tornou fértil para a investida do Nazismo.

Diante do exposto leia o que diz o autor sobre frustração. “O Ur-Fascismo provém da frustração. Individual ou social. Isso explica por que uma das características típicas dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. Em nosso tempo, em que os velhos “proletários” estão se transformando em pequena burguesia (e o lumpesinato se auto exclui da cena política), o fascismo encontrará nessa nova maioria o seu auditório”.

“Para os que se veem privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: ter nascido em um mesmo país. Esta é a origem do “nacionalismo”. Além disso, os únicos que podem fornecer uma identidade às nações são os inimigos. Assim, na raiz da psicologia Ur-Fascista está a obsessão da conspiração, possivelmente Internacional. Os seguidores têm que se sentir sitiados. O modo mais fácil de fazer emergir uma conspiração é fazer apelo a xenofobia. Mas a conspiração tem que vir também do interior: os judeus são, em geral, o melhor objetivo porque oferecem a vantagem de estar ao mesmo tempo, dentro e fora. Na América, o último exemplo de obsessão pela conspiração foi o livro The New World Order, de Pat Robertson”.

“Os adeptos devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo. Quando eu era criança, ensinavam-me que os ingleses eram o “povo das cinco refeições”: comiam mais frequentemente que os italianos, pobres, mas sóbrios. Os judeus são ricos e ajudam-se uns aos outros graças a uma rede secreta de assistência mútua. Os adeptos precisam, contudo, ser convencidos de que podem derrotar o inimigo. Assim, graças a um contínuo deslocamento de registro retórico, os inimigos são, ao mesmo tempo, fortes demais e fracos demais. Os fascismos estão condenados a perder suas guerras, pois são constitucionalmente incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo”.

Destacamos também a seguinte manifestação do autor. “O elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática. No curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos. O Ur-Fascismo não pode deixar de pregar um “elitismo popular”. Todos os cidadãos pertencem ao melhor povo do mundo, os membros do partido são os melhores cidadãos, todo cidadão pode (ou deve) tornar-se membro do partido. Mas não podem existir patrícios sem plebeus. O líder, que sabe muito bem que seu poder não foi obtido por delegação, mas conquistado pela força, sabe também que sua força se baseia na debilidade das massas, tão fracas que têm necessidade e merecem um ‘dominador’”.

Na continuidade do parágrafo anterior, destacamos a seguinte fala do autor: “Nesta perspectiva, cada um é educado para tornar-se um herói. Em qualquer mitologia, o “herói” é um ser excepcional, mas na ideologia Ur-Fascista o heroísmo é a norma. Este culto do heroísmo é estreitamente ligado ao culto da morte: não é por acaso que o mote dos falangistas era: “!viva la muerte!” Para a gente normal, a morte é desagradável, mas é preciso enfrentá-la com dignidade. Mas o herói Ur-Fascista ao contrário, aspira a morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida heroica”.

“Como tanto a guerra permanente quanto o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem de seu machismo. (que implica desdém pelas mulheres e uma condenação intolerante de hábitos sexuais não conformistas, da castidade à homossexualidade)”.

Para encerrar nossa contribuição literária sobre características do fascismo, destacamos a seguinte manifestação do autor sobre o povo: “o Ur- Fascismo baseia-se em um “populismo qualitativo”. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista quantitativo (as decisões da maioria são acatadas). Para o Ur-Fascismo, os indivíduos enquanto indivíduos não tem direitos, e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode ter uma vontade comum, o líder se apresenta como seu intérprete”.

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