Elogios e perturbação do sossego

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

ELOGIOS

Nestes 14 dias do mês de abril, ouvintes do Programa Hora Marcada, apresentado por esse colunista na Rádio Tupanci, elogiaram as mudanças no atendimento da Farmácia Municipal de Pelotas, que passou a fazer a entrega de medicamentos mediante agendamento, terminando com as longas filas de espera.

O atendimento na Farmácia Municipal foi pauta diária do Programa Hora Marcada nos últimos dois anos. Um sistema de atendimento desumano onde pessoas de todas as idades, de crianças a idosos, assim como, familiares de pessoas acamadas aguardavam horas no sol ou na chuva para retirar medicamentos.

As críticas tornaram-se freqüentes tendo em vista a falta de ação do Executivo para mudar aquela situação, sobretudo, porque era consenso entre os críticos, que a mudança era algo simples de ser feito, hoje comprovado!

Cumpre-me o dever de agradecer as dezenas de ouvintes que creditaram ao Programa Hora Marcada a condição de espaço jornalístico onde a comunicação social é exercida reverberando a voz daqueles que, perseverando o direito ao tratamento de saúde, esperavam em condições precárias e humilhantes, que o município ofertasse o medicamento.

Os elogios pela mudança bem sucedida são destinados à Prefeita Paula Mascarenhas, assim como para a Secretária de Saúde Roberta Paganini e o coordenador de Assistência Farmacêutica Fabian Primo. Somando-se a estes, os servidores públicos que trabalham na Farmácia Municipal.

Porém, com a situação aparentemente resolvida, a crítica do passado transforma-se em questionamentos.

Por que não fizeram as mudanças antes?

Tem que haver uma política de sofrimento primeiro, para que haja valorização da mudança do estágio de sofrimento para o de bem estar social?

As farmácias do município de Pelotas e do estado estão localizadas em prédios vizinhos, atualmente, poucos metros de distância dividem realidades opostas, porque, na farmácia do estado, a população continua vivendo a humilhação e o sofrimento da espera em longas filas.

PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO

Na última segunda-feira (10) na Câmara de Vereadores de Pelotas ocorreu audiência pública proposta pelo vereador Marcos Ferreira – Marcola (União Brasil). Na ocasião, foram ouvidos representantes da população interessados no Projeto de Lei encaminhado pelo Executivo sobre a perturbação do sossego.

Não levando em conta alguns detalhes, como o comportamento de alguns vereadores que deram mais importância aos celulares do que a pauta da audiência.

Pior foram as ausências de alguns vereadores, pois o tema é um dos mais complexos e necessita de legislação que possa garantir direitos individuais e coletivos da população.
A câmara lotada foi o fórum de uma primordial disputa de poder político, onde cada ator, através do discurso, sem elevação no tom da voz, sem discussões acaloradas, de forma respeitosa e harmônica, buscou conquistar aliados para sua causa.

Seguindo a ordem cronológica dos fatos, a câmara recebeu o projeto de lei proposto pelo Executivo ainda em 2022. Realizou a primeira audiência pública, marcada para uma segunda-feira à noite depois de um feriadão, sem dar ampla publicidade sobre a mesma. A casa lotada mostrou o poder de mobilização da população que sente seus direitos violados.
Cabe aos vereadores, a partir de agora, agir com a devida responsabilidade jurídica, social, política e fiscalizatória que a situação requer. Diante de todas as manifestações e fatos expostos, para que a legislação traga resultados positivos, cada um terá que fazer a sua parte.

O poder Executivo terá que dispor de uma Guarda Municipal em condições para fiscalizar e exigir cumprimento da legislação, punindo os excessos. Condições que a guarda não tem e os vereadores não fiscalizaram. Segundo manifestações do representante no SIMP, Sindicato dos Municipários de Pelotas e de guardas municipais, a instituição agoniza, aguardando reivindicações.

A juventude por sua vez, quer usufruir o direito à cidade, utilizando os espaços públicos para lazer e diversão.

Os proprietários de imóveis que perderam o sossego, o direito de ir e vir e tiveram a porta de casa, a calçada e o próprio passeio público, transformados em banheiros, também exigem seus direitos.

Além da guarda municipal, dos jovens e dos proprietários de imóveis, os donos de estabelecimentos comerciais querem movimento e consumo.

Cada um quer sua pretensão contemplada na lei, para isso, será necessário ouvir todos muitas vezes até a construção do consenso.

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