O pronunciamento do governador Eduardo Leite, na quinta-feira (2), foi alerta e conclamação. O Rio Grande do Sul atinge o pior momento na pandemia, assim como a necessidade de mobilização da sociedade para que não se enfrente o pior dos piores: o estrangulamento do sistema de saúde e o caos no atendimento. O momento em que o volume de infectados precisando de unidades de tratamento intensivo seja tão grande que não se tenha mais recursos, inclusive humanos.
Como disse a jornalista Kelly Matos, a manifestação foi “dura, sensível e necessária”. A síntese de um político preocupado em não medir esforços para que as decisões de saúde pública sejam sensatas, ao máximo, isentas de pressão e balizadas por indicadores técnicos. Que auxiliem a tomar decisões o mais próximo possível para a melhoria da qualidade de vida de quem já sofre com a doença, assim como vai ser vítima das consequências nas áreas econômica, social, educacional…
“Dura” porque há falta de consciência a respeito do problema, parecendo estranho que pessoas abastadas julguem-se fora do alcance do vírus. Assim como a população de periferia, com tantos problemas que este ainda parece ser dos menores diante da sobrevivência. Dito de forma clara e didática, ali estão elementos para um juízo de valores, faltando somente que o governo tenha que inserir em material publicitário pessoas perecendo arfantes para sentirem a dor da morte de um contaminado.
“Sensível”, na forma e jeito da apresentação. Eduardo usa de simpatia – e apela para a empatia – para mostrar que é governador de todos os gaúchos, num momento em que o que menos importa são diferenças ideológicas, políticas, religiosas, esportivas… A “grenalização”, assim como a “brapelização” regional perdem sentido diante da sobrevivência e busca de formas para que, entre “mortos e feridos”, escapemos todos, sabendo que depois poderemos voltar às antigas e eternas rixas.
“Necessária”, porque há muita gente falando demais num momento em que é necessário concentrar a atenção numa liderança que pode até errar, mas tem mostrado disposição de conduzir o estado pelo rumo certo. Quando a crise chega a um momento como este, precisa-se apostar no que é apontado como caminho, baseado, especialmente, no conhecimento técnico. Exatamente o que se está vendo, embora comentaristas de plantão teimem em ver ferida no detalhe sem se dar conta de que o corpo pode morrer de infecção generalizada.
Depois que o coronavírus for embora, maragatos e chimangos poderão voltar a exacerbar suas vaidades, num jogo político que transformou o estado no que é hoje: pobre e marginalizado. Cheio de problemas: gafanhotos à vista, ciclones, secas, vírus… faltando pessoas que poderiam estar conosco se déssemos ouvido à voz sensata de um estadista que foi duro, disse o que era necessário, sem ter perdido a ternura por sua gente.