Semana passada, num dos momentos mais fortes da crise com o coronavírus, notícias da economia chamaram a atenção: na contramão de papéis que se desvalorizaram nas bolsas de valores, laboratórios envolvidos em pesquisa por vacina viram suas ações disparar, ao anunciar a possibilidade de que este ano (no máximo em 2021) haja antídoto para controlar a pandemia. Não bastasse, bancos apresentaram seus balanços com rendimentos históricos menores, mas que não podem ser desprezados.
Seguidamente, economistas falam a respeito do Produto Interno Bruto (PIB), responsável por calcular o que um país produz e pode distribuir entre seus cidadãos. Que, na verdade, não funciona, porque trata do técnico e esquece do humano, em seus cálculos. Esta semana, em sua coluna, Tulio Milman cita o livro Economic Dignity, de Gene Sperling. Mostra as possibilidades para que se tenha perspectiva de um novo normal. Uma das discussões é sobre os pilares da dignidade econômica.
Reivindica Sperling: “a capacidade de cuidar da família sem privações econômicas que impeçam de viver momentos significativos e as maiores alegrias da vida. O direito de realizar seu potencial e de buscar um propósito. O poder de trabalhar e de contribuir, sendo respeitado e sem sofrer humilhação ou dominação”. Num tempo em que o número de desempregados aumenta (registro de quem ainda procura), uma vaga é, literalmente, um sonho, que, em muitos casos, vira pesadelo.
A crise é um tempo para a sociedade preparar o novo normal. Infelizmente, em futebol, somos técnicos; religião, mais do que o papa; economia, superiores aos especialistas; e, em políticas, palpitamos e nos ofendemos (com dose de orgulho!), ao dizer: “viu, eu avisei”. A humildade não é uma das nossas características. O que está vencendo a luta contra a pandemia em outros países é a capacidade do povo de ser disciplinado e atender ao que é solicitado por dirigentes, com o apoio da ciência.
A solidariedade que está presente em diversos meios de comunicação é um gesto de boa vontade que, em algum momento, vai se exaurir. No entanto, pode ser, também, um tempo para as instituições que cuidam da caridade se organizar para resistir e persistir no pós crise. Filmagens e fotografias de atos de atendimento à população mais pobre passam, mas os necessitados continuam lá, precisando de quem os atenda sem registro de selfies e postagens em redes sociais.
Para os indiferentes à dor das vítimas econômicas da pandemia, queria escrever como J.J. Camargo: “e, por favor, sem nenhuma crítica, siga em frente com a indiferença que lhe trouxe até aqui. Existem, e merecem todo o respeito, aqueles que optaram por cuidar apenas das suas próprias vidas. Mesmo com a evidência do quanto é monótono e solitário de ver o ocaso de quem escolheu envelhecer com os olhos secos”.