Ser motorista de ônibus foi um sonho que virou realidade

Paulo trabalha desde 2002 com o transporte de passageiros. (Foto: Eunice Garcia/JTR)

Ainda é madrugada e o despertador toca avisando que é hora de levantar e aquecer o motor do ônibus para dar início a mais uma viagem. São 100 quilômetros para percorrer e a maioria deles de estrada de chão. Essa é a rotina do motorista pinheirense, Paulo Isaque Dutra Garcia, de 46 anos, que desde 2002 trabalha transportando passageiros.

Atualmente, o motorista faz a linha da empresa Estrela Sul que inicia no interior do município, na localidade do Alto Bonito, e vai até a cidade de Pinheiro Machado. Ao longo deste percurso, são diversas as paradas para embarque e desembarque e a viagem demora em média três horas para chegar ao destino. No final da tarde, mais três horas são enfrentadas no volante para retornar.

Segundo Garcia, o sonho de se tornar motorista de ônibus surgiu ainda na infância. “Morando na zona rural sempre quis uma oportunidade que fosse além da lida campeira e agricultura. Pensava em ter uma profissão e quando eu ouvia o barulho do ônibus passando na estrada em frente à minha casa eu viajava na imaginação e sonhava um dia ser motorista”, relembra.

Tudo parecia tão distante da realidade, até que um dia, surgiu a oportunidade de trabalhar como cobrador de ônibus. “De repente, no ano de 1997, fui convidado para trabalhar na empresa de ônibus como cobrador, não pensei duas vezes e, aceitei a proposta, sem ao menos questionar o valor do salário. Vi que ali se abria uma porta para a realização de um sonho”, conta.

“Foi trabalhando como cobrador que juntei dinheiro e me organizei para fazer minha primeira habilitação. Comecei a dirigir e continuei focado buscando conhecimento e experiência na estrada. Após dois anos, troquei a categoria da CNH e me tornei habilitado para dirigir ônibus”, ressalta.

Passado algum tempo, a empresa estava com dificuldades pra conseguir motorista para fazer a linha de Alto Bonito até Bagé. Por ser uma linha da zona rural e estrada de chão não despertava interesse dos profissionais, sendo que, também precisavam ficar no interior e distante da família, nos finais de semana. “Foi aí que um amigo indicou meu nome para o cargo, fui chamado na empresa e promovido a motorista, no ano de 2002. De lá pra cá, são inúmeros os quilômetros percorridos pelo Estado e muitas histórias para contar”, disse.

Nesses 19 anos de estrada, seis anos fazendo o percurso do Alto Bonito a Bagé e, posteriormente para Pinheiro Machado, nem todas as viagens foram tranquilas. Os imprevistos acontecem e, muitas vezes, geram momentos de tensão, medo e agonia. “Numa das viagens para Bagé o pneu dianteiro estourou quando já estava na BR-293, foi um susto, um momento crítico e pela misericórdia de Deus, não se tornou uma grande tragédia”, lembra o motorista.

A estrada de chão nem sempre apresenta boas condições de trafegabilidade, muitas vezes, a manutenção da estrada não é feita, o que causa um desgaste enorme no veículo. A chuva, o barro também são fatores que dificultam o dia a dia do motorista que trafega na zona rural. Mas nem tudo é dificuldade, há os momentos hilários e divertidos que ficam marcados na memória. “Certa vez, retornava com uma excursão da cidade de Cristal e o calor era muito intenso, o pessoal decidiu chegar em São Lourenço do Sul para curtir uma praia. A maioria dos excursionistas estavam desprovidos de roupas de banho e teve gaúcho que mergulhou e se divertiu de bombacha”, relatou.

Outro momento bem marcante foi o dia que uma gestante embarcou e foi logo avisando que estava com dores de parto. “Foi uma viagem tensa e preocupante, qualquer movimento mais brusco com o ônibus eu observava se ela estava bem. Felizmente, ela teve tempo de chegar ao hospital para o bebê nascer”, contou Garcia.

Há muitos anos, a empresa Estrela Sul é responsável pela linha do Alto Bonito a Pinheiro Machado, atualmente, devido à pandemia, os dias de linha foram reduzidos. Somente nas segundas-feiras e sextas-feiras os passageiros dispõem do transporte coletivo para chegar até à sede do município.

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