
O 28º Congresso Brasileiro de Fruticultura, realizado de segunda (6) a sexta-feira (10) no Centro de Eventos Fenadoce, encerra ciclo de eventos de projeção nacional e internacional ligados ao agronegócio que teve Pelotas como sede em 2023. Antes dele, o município abrigou o Congresso Brasileiro de Agronomia, em setembro, e a 15º Conferência Mundial de Frutas Processadas de Caroço (Cancon15), na primeira semana de novembro.
Paralelamente, foi realizado no Congresso o 5º Encontro Nacional de Olivicultura, aberto na quarta-feira (8) e encerrado na quinta (9) com palestras de especialistas que abordaram questões como poda de olivais, adubação, recursos genéticos, entre outros temas de interesse do setor.
A escolha do município pela Sociedade Brasileira de Fruticultura (SBF) mostra o potencial e a importância da fruticultura na cadeia do agronegócio regional, que ainda conta com centros de formação reconhecidos pela excelência e tradição. Além de concentrar plantas industriais que abastecem o mercado interno de pêssego em calda, Pelotas neste ano comemorou os 140 anos da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Faem) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a mais antiga do país em funcionamento ininterrupto. A data foi determinante para a realização do Congresso Brasileiro de Agronomia, em setembro.
“Além de ser polo de uma região que conta com uma cadeia produtiva altamente capacitada e diversificada, Pelotas e região são reconhecidas nacionalmente pela produção frutífera, é histórico”, disse Vagner Brasil, professor de Fruticultura da Faem e presidente do Congresso. Ele prossegue: “[a cidade] tem atributos de sobra para abrigar eventos desse porte, que sempre deixam legado por onde passam. Não vai ser diferente aqui, os debates e as tecnologias envolvidas no setor fatalmente chegarão aos produtores”.
Conforme Brasil, pelo menos 1,2 mil pessoas circularam pelo Congresso durante esta semana, entre pesquisadores, produtores, cientistas, técnicos de assistência técnica e extensão rural, além de empresários do setor de 25 estados e sete países, unindo a um só tempo produção, pesquisa e mercado.
Assim como ele, o presidente da SBF, Henrique Petry, não tem dúvidas de que o Congresso plantou sementes que irão germinar nas propriedades rurais da região – o que considera fundamental, principalmente pela característica familiar da produção de frutas em Pelotas e em municípios vizinhos. Lembra que são milhares de agricultores que sobrevivem em pequenas áreas por meio da fruticultura. O “grande desafio”, no entanto, é mantê-los na atividade.
“O pequeno agricultor precisa ter rentabilidade para se reproduzir socialmente. Como qualquer ser humano hoje ele quer conforto, acesso, informação, tudo isso tem seu custo e a fruticultura talvez seja uma das melhores opções para rentabilizar pequenas áreas e manter a população ocupada com muita mão de obra”, afirma.
Por isso, destaca para além das potencialidades a importância social do setor ao fixar mão de obra no campo e a capacidade de gerar divisas aos pequenos produtores. Mas não apenas. O consumo de frutas é uma das principais recomendações médicas no caminho da qualidade de vida – o que vai ao encontro de um nicho de mercado cada vez mais crescente, o da alimentação saudável. “Quem quer viver mais e melhor deve comer frutas, após a pandemia uma das primeiras recomendações foi se alimentar melhor para reforçar nossa imunidade, nosso compromisso, portanto, é ofertar frutas de melhor qualidade para a sociedade”, aponta.
Com um valor bruto de produção em 2021 de mais de R$ 50 bilhões, convertendo-se no sétimo negócio do agro brasileiro, a fruticultura oferece também, reforça o presidente da SBF, uma perspectiva importante de industrialização no meio rural por meio das agroindústrias.
“É uma alternativa muito importante para diversificar a renda do produtor, as perdas no sistema ficam menores, aquela fruta que não iria vender, porque tem uma mancha ou uma aparência que pode não servir ao consumidor – afinal, como se sabe, fruta se compra com os olhos -, pode perfeitamente ser aproveitada na transformação de uma geleia, de um suco, de um iogurte. Se torna uma opção que agrega valor”, recomenda.
Lançamento
Entre as diversas atividades, o evento também teve o lançamento de uma nova cultivar de amora desenvolvida pela Embrapa Clima Temperado. A amoreira-preta BRS Ticuna é opção para geleias e sucos, com foco no processamento. Desde 2018, ela vem sendo avaliada pela pesquisa nos Campos de Cima da Serra, numa parceria entre a Estação Experimental de Vacaria (RS), a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas.
De acordo com a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, coordenadora do projeto que desenvolveu a nova amoreira, a cultivar tem plantas de porte ereto, frutas grandes e colheita mais tardia que a cultivar Brazos. “A sua acidez mais elevada limita a aceitação para consumo in natura e a direciona para a indústria, a qual, logicamente, paga menos em comparação ao preço obtido no mercado de frutas frescas. Para compensar, é importante que a cultivar seja altamente produtiva”, pondera.
O 28º Congresso Brasileiro de Fruticultura foi correalizado pela UFPel, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e Embrapa Clima Temperado.