A 97ª edição da Expofeira Pelotas, que vai de 9 a 15 de outubro deste ano no Parque de Exposições Ildefonso Simões Lopes, não celebrará apenas as potencialidades do agronegócio regional. No dia 12, feriado de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças, a Associação Rural de Pelotas (ARP) completará 125 anos de existência. Nesta data o evento será aberto oficialmente com a entrega do Mérito Rural ao presidente do Sindicato Rural de Pelotas, Fernando Rechsteiner, e da Medalha Nunes Vieira ao ex-presidente da ARP, Rodrigo González.
Parte desta história já foi contada na forma de fotos e textos expostos em painéis durante a 95ª Expofeira Pelotas, em 2021 – um ano após o evento ser realizado de forma totalmente online em razão da fase aguda da pandemia do novo coronavírus, numa exposição que teve curadoria do jornalista e ex-secretário nacional de Cultura, Henrique Pires.
A entidade desde sempre é a promotora da maior feira agropecuária do Rio Grande do Sul após a Expointer, a única com realização em três séculos. Resistiu a uma guerra civil, a Revolução de 1923, duas guerras mundiais e duas pandemias – em 1918 (Gripe Espanhola) e 2022 (novo coronavírus). Consolidada no calendário de eventos do agronegócio gaúcho e brasileiro, é a segunda maior Expofeira do Estado em entrada de animais, movimenta milhões de reais em negócios e é reconhecida pela excelência genética dos animais em pista. Motivos não faltarão, portanto, para comemorar este aniversário.
Então batizada Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul – o que lhe valeu durante quase toda sua história ser popularmente conhecida pelos pelotenses como “Agrícola” – a entidade realizou sua primeira exposição agropecuária entre 21 a 23 de abril de 1899. Um feito. O evento não foi apenas o primeiro do gênero no município, mas no Rio Grande do Sul e, especula-se, a primeira no Brasil.
A edição inaugural contou com 150 expositores que levaram ao público equinos, bovinos, aves, suínos, maquinário agrícola, plantas forrageiras, conservas e flores ornamentais. Culminou com desfile dos animais em frente ao então Liceu Rio-grandense de Agronomia e Veterinária (atual Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel – Faem/UFPel) – onde hoje está instalado o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg), no Largo do Mercado.
Quando realizou a primeira exposição a ARP recém dava os primeiros passos. A fundação havia ocorrido apenas seis meses antes, quando um grupo de professores da Escola de Agronomia e Veterinária de Pelotas, redatores da Revista Agrícola do Rio Grande do Sul, do então Liceu Rio-grandense de Agronomia e Veterinária, que em 2023 celebra 140 anos e se converte na faculdade de Agronomia mais antiga do País em atividades ininterruptas, decidiu criar a Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul. Coube a José Cipryano Nunes Vieira a honraria de ser o primeiro presidente da entidade, posto que o eternizou na memória da ARP por nomear a Medalha concedida anualmente, desde 1998, durante a Expofeira a produtores rurais que se destacam pelo trabalho realizado em Pelotas e região junto ao agronegócio.
O nascimento da hoje ARP frutificou. E rápido. Na primeira década do século 20 surgiram nas demais regiões do estado outras entidades similares. Não tardou para que os produtores gaúchos se unissem para a criação da Federação das Associações Rurais do Rio Grande do Sul (Farsul).
Em 1922, a Sociedade Agrícola Pastoril do Rio Grande do Sul muda de nome e passa a se chamar Sociedade Agrícola de Pelotas. Neste mesmo ano arremata uma área de 43 hectares na Zona Norte de Pelotas, conhecida como Três Vendas – para onde se transfere definitivamente em 1945. Nesse interim, continua realizando edições da Expofeira, não necessariamente anuais. Após um intervalo de cinco anos, por exemplo, entre 15 e 26 de novembro de 1924, promove a 10ª edição do evento.
Já a primeira no atual espaço, que marcou a inauguração do Parque Ildefonso Simões Lopes, ocorreu entre 2 a 7 de outubro de 1945, logo após o término da Segunda Guerra Mundial. A construção das edificações do Parque na hoje avenida Fernando Osório, à época avenida Argentina, foi viabilizada com aporte de recursos do governo federal da época, do então presidente Getúlio Vargas. Chamou atenção a estrutura do espaço, comparado, guardadas poucas proporções, ao da famosa exposição agropecuária realizada no bairro de Palermo, em Buenos Aires.
Imagens de arquivo da edição daquele ano comprovam. Mais ainda: a presença significativa de público, que se deslocou ao Parque principalmente pela linha de bonde disponibilizada pela prefeitura. “Os registros mostram muita gente, de todas as partes da cidade, da Colônia, do Centro, periferia, foi um acontecimento”, afirma o jornalista Henrique Pires, responsável pela pesquisa e seleção das imagens da exposição realizada durante a 95ª Expofeira, em 2021.
Batizada Associação Rural de Pelotas em 1967, quando deixou de se chamar Sociedade Agrícola de Pelotas, a ARP tem na Expofeira Pelotas o seu maior e mais importante evento. Projeta Pelotas nacionalmente no âmbito do agronegócio e ainda oferece uma ampla programação destinada a debater as 14 cadeias produtivas do setor na região por meio da Conferência Rural, considerada o braço técnico-científico do evento. Vale lembrar que a ciência e difusão do conhecimento estão no embrião da ARP e a acompanham desde sempre: foi fundada por professores universitários e em 1908 coube à então Sociedade Agrícola do Rio Grande do Sul realizar o 1º Congresso Rural do Rio Grande do Sul para debater melhorias no rebanho e fomentar a agricultura como um todo.
