Pelotas: Quando a profissão de caminhoneiro está no DNA da família

Na foto, membros da família Müller, Vinicius, o pequeno Davi, Orney e Victor. (Foto: Arquivo Pessoal)

A empolgação com que o pai Orney Müller e o filho Vinicius falam sobre a profissão de caminhoneiro, responsável pelo sustento da família há pelo menos 50 anos, demonstra que a atividade, mais do que uma profissão, é uma paixão, que está presente no DNA do pai e, sem dúvida, foi transmitida aos filhos e ainda, quem sabe, ao neto.

A esposa de Orney e mãe de Vinicius e Victor, Vênia Maria Pieper Müller, também tem uma importante contribuição na história da família com o setor de transportes. Completam a família Muller, a filha Viviane, de 38 anos, farmacêutica, e o filho Davi, que acompanha de perto o dia a dia dos avós e tios na transportadora.

Fundador da Müller Transportes, em 1997, o motorista aposentado Orney, de 65 anos, não viaja mais. Vinicius, de 34 anos, por sua vez, ao lado do irmão Victor, de 23, comandam uma frota de 11 caminhões – chegaram a ser 13 – pertencentes à VPM Transportes, empresa criada por eles em 2010, que funciona junto à Müller, nas Três Vendas, em Pelotas, e que emprega pelo menos 12 motoristas, que viajam todo o Brasil, transportando principalmente cargas de grãos de cereais, como a soja e o arroz.

“Eu comecei com 18 anos, mas parei de viajar em 1995, são 47 anos de profissão”, ressalta o patriarca.

Nestes 47 anos, mais de 20 foram dedicados à antiga empresa Vega, onde Orney participou ativamente da logística e distribuição, em que era responsável pelo redespacho, distribuição dos produtos para outros estados, de pelo menos 10 a 12 cargas por dia, conta. “Na época a Vega trabalhava com serviços de terceiros, no total de 20 autônomos, e exigiu que eu abrisse uma firma, que deu origem à Müller Transportes”, recorda.

Segundo ele, a esposa Vênia sempre foi sua parceira desde o início. “A empresa começou dentro da área de luz da nossa casa, onde a Vênia fazia os pedidos de garrafas, potes, açúcar, sal, latas, toda a matéria-prima da indústria que vinha de São Paulo”, conta.

Com tantos anos de profissão, Orney recorda alguns percalços pelos quais passou, como o roubo de seu caminhão em 1984, o que o fez ter que trabalhar como empregado por um tempo. A vontade de desistir apareceu algumas vezes e, por um tempo, tentou se dedicar à agricultura, mas não deu muito certo, diz. “Plantei soja por três anos, mas vi que não era pra mim”, lembra. Fatores como a seca, falta de máquinas e de mão de obra lhe influenciaram a voltar para o caminhão. E quem lhe ajudou neste recomeço, foi o irmão Orlando, proprietário da Agro Müller de Canguçu, com quem trabalhou por um tempo e o ajudou a financiar um novo caminhão, recorda.

“Vida de caminhoneiro é dificil”, ressalta Orney, citando que além de enfrentar todos os tipos de problemas, como acidentes e assaltos nas estradas, ainda precisa driblar os altos custos, como os de combustíveis, a fim de obter uma renda melhor, pois os preços dos fretes nem sempre acompanham a alta dos preços.

“Os fabricantes de caminhões melhoraram a tecnologia, mas não evoluíram no que diz respeito à economia, ao consumo de combustível”, aponta. Segundo ele, o rendimento de um caminhão pesado hoje é de 2,2 a 2,7 km por litro de óleo diesel, o mesmo de um caminhão 111, há 20 anos atrás. “Um caminhão que custa R$ 200 mil tem o mesmo rendimento de um que custa R$ 900 mil. O dinheiro é o mesmo”, ressalta.

Os custos para manter um caminhão rodando são altos e ainda mais, com o preço do diesel que, segundo ele, nunca havia ultrapassado o da gasolina. “Para ir a Goiás e voltar, por exemplo, são 2,5 mil litros de diesel, em torno de R$ 2,5 mil em pedágios, sem contar os custos com funcionário e o pessoal para descarregar”, cita.

O caminhoneiro veterano carrega ainda no seu histórico a fundação da Associação dos Proprietários de Caminhão de Pelotas e região (Aprocapel), entidade que segundo ele faz toda a diferença na vida dos caminhoneiros associados.

Há 14 anos, ele foi um dos sócios fundadores da entidade, que entre muitas outras vantagens, como pneus 30% mais barato, recapagem, óleo lubrificante, graxa e lonas mais em conta, oferece a vantagem de driblar a burocracia das seguradoras na hora de recuperar o veículo, em caso de acidentes.

Recentemente, a família enfrentou um acidente com um de seus caminhões, que já foi recuperado pela Aprocapel e está pronto para rodar de novo. Além disso, foi responsável por agilizar a remoção e transporte do veículo para a oficina em São Marcos, a um valor três vezes menor do que custaria pelos trâmites da seguradora. “Esse acidente aconteceu há 42 dias e o seguro não pagou ainda”, ressaltam. Também na Aprocapel, Vinicius segue os passos do pai e hoje ocupa o cargo de diretor da entidade.

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