O apelo por mudanças na legislação ambiental a fim de facilitar a retenção de água por produtores rurais e assim evitar maiores danos nas safras de verão atingidas pela estiagem foi o tema central da maioria dos discursos da cerimônia oficial da abertura da Colheita do Arroz, realizada na tarde de quarta-feira (15) na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, no Capão do Leão. O local abriga a 33ª edição da Abertura da Colheita do Arroz, evento realizado pela Federarroz que começou na terça-feira (14) e termina nesta quinta com painéis temáticos e vitrines tecnológicas.
Na presença de lideranças de entidades do agronegócio, autoridades e parlamentares, a cerimônia cumpriu o protocolo tradicional: foi aberta com uma colheitadeira que percorreu parte da extensão da lavoura Breno Prates – ato que contou com a participação do vice-governador Gabriel Souza (MDB), do secretário estadual de Agricultura, Giovani Feltes, e do senador Hamilton Mourão (Republicanos).
Na sequência, os discursos. O primeiro a falar foi o anfitrião do evento, chefe geral da Embrapa Pelotas, Roberto Pedroso. Ele lembrou que uma das maiores fronteiras agrícolas do Brasil está nas terras baixas, “terras de arroz”, localizadas em uma das regiões menos desenvolvidas do Estado. Em seguida, na fala mais contundente da tarde por ações de combate à seca, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, cobrou dos governos estadual e federal medidas contra a estiagem que atinge com força o pequeno médio produtor rural. “O agricultor não quer nada de graça, precisamos é de apoio contra a seca”, disse.
Já o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, preferiu voltar a crítica para a legislação ambiental que impõe restrições ao produtor na abertura de açudes e outras ações que possibilitam reter a água da chuva que cai em maior volume no Rio Grande do Sul nos meses de inverno. “Construímos 85 mil açudes nos anos 60, 70 e 80. Hoje é preciso mais – não tem outra saída a não ser lutar pela liberação e reserva de água. Temos tecnologia para combater a estiagem, basta melhorarmos o entendimento das pessoas, dos governos, para que possamos construir e reservar água, este é o caminho. O produtor sofre com legislações ambientais pesadas.”
Ex-presidente da República e senador eleito pelo Rio Grande do Sul em 2022, Hamilton Mourão também bateu na tecla. Ele falou em “melhorar” a legislação para “reservarmos água” e salientou que atualmente o produtor conta com tecnologia, um ativo que os antepassados não tinham.
O presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul, Alexandre Velho, reforçou o apelo. Para ele, “não é possível mais postergar a solução em reservar água”. Velho também falou sobre a responsabilidade de defender um setor como o orizícola, que tem influência sobre o PIB de mais de 200 municípios gaúchos, e sobre os desafios que o produtor precisa enfrentar diante de um custo de produção que aumentou em média 60% nos últimos dois anos. “Mesmo produzindo um arroz como o do Rio Grande do Sul, reconhecido internacionalmente, livre de resíduos e atestado pela Anvisa, tivemos que nos reinventar e buscar alternativas como intensificar a integração lavoura-pecuária e ampliar o portfólio da propriedade com o cultivo de soja e milho.”

Vice-governador promete medidas contra a seca
Responsável por fechar a sessão de discursos da cerimônia de abertura oficial da Colheita do Arroz, o vice-governador Gabriel Souza, informou que nos “próximos dias” o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciará medidas de combate à estiagem e de mitigação dos danos causados aos produtores. “Estamos vivendo um momento terrível de estiagem e precisamos atuar em diversas frentes para solucionar este problema.”
Gabriel também não se esquivou de comentar sobre a questão que envolve restrições para reserva de água como medida de enfrentamento á seca. Mas lembrou que há houve avanços, como o que permitiu aos municípios ampliar o limite de hectares para licenciamento de reservação hídrica. Por fim, enalteceu a importância do agronegócio na economia gaúcha e a participação do setor orizícola do Estado na produção nacional, responsável por 70% de todo o arroz produzido no Brasil.