
O município de Canguçu conta com mais de quatro mil produtores de fumo espalhados pela zona rural. São exatos 4.085 fumicultores que na última safra produziram pouco mais de 21 mil toneladas, numa produtividade média de 2.486 quilos por hectares. Números expressivos que justificam até um programa municipal de incentivo ao tabaco disponibilizado pela prefeitura que consiste em ações de melhoria na infraestrutura da propriedade, construção de açudes com 50% de desconto e implantação de sistemas de irrigação.
“É um produto agrícola de alto valor agregado, gerando renda e melhor qualidade de vida para o produtor rural de tabaco. Sua produção é feita de maneira sustentável, que contribui para conservação do meio ambiente”, justifica Nilson Nornberg, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Urbanismo, Agricultura, Pecuária e Cooperativismo.
Com 39 anos de idade e 27 na lavoura de tabaco, Joelmir Lemke, concorda.
Com dificuldade à época de se deslocar à escola (segundo ele o transporte escolar era muito irregular na localidade) optou por largar os estudos para se dedicar ao cultivo na propriedade da família, de 32 hectares, em Nova Gonçalves, segundo distrito de Canguçu.
É o que faz até hoje. Neste ano mesmo, chegou a tentar uma segunda safra de inverno. A experiência não foi tão bem-sucedida, mas diz que “colheu uma estufada”. “Tivemos geadas muito fortes, que queimaram as folhas”, lamenta. Mas nem de longe a tentativa o desanima. Quando setembro chegou, tão logo as chuvas cessaram, foi para a lavoura plantar fumo para a safra 2023/24. São quase oito hectares plantados, nos quais espera colher entre 20 a 22 mil quilos.

“O que tem na propriedade é graças ao fumo”, afirma ele. E o que tem não é pouco. Lemke possui dois tratores, implementos, galpões e três estufas elétricas. Até 1996, quando a família decidiu pela produção de tabaco, lembra que “não tinha nada”.
As principais fontes de sustento dos Lemke eram leitaria e suinocultura. Não dava retorno, segundo ele. “[para ter] renda, hoje é só tabaco”, defende. A produção de alimentos, que no seu caso se resume a verduras, feijão e batata, é relegada a segundo plano: produz apenas para consumo familiar, a exemplo de outros fumicultores. “Só com o tabaco que consegui reformar a casa e oferecer mais qualidade de vida para a minha família”, explica ele, no caso, a esposa Daniela e os filhos Miquéias, 8, e Lavínia, de 3.
A maior parte da produção é para a BAT Brasil (antiga Souza Cruz). Também entrega para a JTI e China Brasil Tabacos. Ressalta a boa relação que se estabelece entre o produtor e as fumageiras. “Trabalhamos como amigos”, diz Lemke. Ele recebe assistência técnica gratuita e facilidades na aquisição de insumos. A única preocupação em relação à próxima safra é com o El Niño. “Tem menos tabaco que em ano seco. Na seca a planta reage muito rápido e metade da minha lavoura é irrigada por gotejamento. El Niño é péssimo para o fumo, afeta a produtividade e a qualidade da folha”, explica.
No manejo, recomenda sempre uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), o que para ele é um costume, além de uma exigência das companhias. “Quero viver mais e viver bem. E hoje são muito mais confortáveis, nem se passa calor, como quando comecei”, justifica.
As primeiras remessas para a indústria devem ocorrer em dezembro. Espera começar a colher já no fim de novembro, atividade que deve perdurar até o início de março. Até lá, terá um janeiro pela frente. “É o pior mês”, revela. Motivo: passa o dia na lavoura e as noites mal dormidas. Diz que chega a levantar duas vezes por noite para checar as condições de temperatura nas estufas.
Segurança
Joelmir diz que a produção de fumo é segura e ressalta que atualmente o uso de defensivos na lavoura diminuiu bastante. Reforça o discurso de outros produtores: “O fumo não leva tanto [agrotóxico], vai mais veneno em certos hortifrútis e nos grãos do que no fumo”.