Agricultores familiares de Turuçu superam desafios e mantêm a cultura da pimenta no município

Cultura é uma das principais do município, com produção de 120 toneladas em oito hectares. (Foto: Divulgação)

Turuçu é nacionalmente conhecida pela produção de pimenta. Desde que ganhou a fama, muitas coisas mudaram no sistema de cultivo e no mercado da produção. Para manterem-se fortes e produtivas, as famílias rurais produtoras de pimenta enfrentaram e enfrentam diversos desafios e obstáculos. Porém, a cada ano avançam em termos de qualidade e diversificação de produção

O cultivo da pimenta no município, que anos atrás eram caracterizada por uma só variedade, a dedo-de-moça, e grandes extensões de área, passou por mudanças nas últimas décadas. Para manter-se no mercado e dar continuidade à produção, as famílias buscaram alternativas como agroindustrialização e diversificação de variedades plantadas. Atualmente, em oito hectares são produzidas 120 toneladas de pimentas dos mais variados tipos.

Um grande incentivo à manutenção da cultura em Turuçu foi a formação e regularização de agroindústrias familiares, que processam pimentas e outros vegetais. Os empreendimentos começaram a ser incentivadas e formadas através do trabalho da Emater/RS-Ascar, Prefeitura Municipal e pelo interesse e motivação das famílias rurais no início dos anos 2000. Há uma política pública estadual que possibilita a implantação de agroindústrias familiares rurais, sendo importante para a agroindustrialização da produção na propriedade familiar rural. O Programa Estadual de Agroindustria familiar (PEAF) é uma grande ferramenta para a agricultura familiar, que através da agroindústria consegue agregar valor ao produto final, além da possibilidade de explorar mercados que melhor valorizem o produto e seus derivados.

Outro importante fator nesse histórico foi a Festa da Pimenta, que atualmente ocorre em outubro junto da Festa do morango. Os agricultores, junto da Emater/RS-Ascar, criaram o desafio de todo ano ter um produto diferente e novo para lançar na festa. Assim, foram se desenvolvendo no município famílias rurais com uma diversificada produção de pimenta, permitindo que a cada ano aumentem as expectativas de colheita e os mercados disponíveis para a pimenta. Atualmente, mais de 20 variedades são cultivadas, desde a bico doce, que não tem ardência, até a Carolina Reaper, a pimenta mais ardida do mundo. Dessas variedades é possível encontrar um grande portfólio com mais de 150 produtos. Além das pimentas in natura ou desidratadas são produzidos molhos, azeites, conservas, geleias e outros produtos.

Apesar de ser uma cultura produtiva e diferenciada, os produtores enfrentam desafios como em todo setor. Este ano a estiagem mostrou a importância da irrigação e, por consequência, a necessidade e a carência de famílias no acesso às tecnologias. Além disso, o controle de doenças como a antracnose são um desafio aos produtores, que estão cada vez mais preocupados com o meio ambiente a saúde humana, buscando soluções ecológicas e alternativas no controle de doenças e pragas.

Outro desafio é a falta de mão de obra nas propriedades. A colheita da pimenta é um trabalho intenso e que exige atenção e dedicação. Com as famílias menores há escassez de pessoas para fazer o trabalho da colheita, o que se torna um obstáculo muitas vezes, pois no auge da safra há um trabalho diário que demanda muito tempo. Algo indiscutível é a qualidade do produto in natura e também processado. Neste sentido, as famílias também evoluíram com a construção de desidratadores de pimenta, um espaço em alvenaria com circulação forçada de ar quente, que garante maior pureza e qualidade no produto final.

A cultura também se destaca pelo envolvimento de jovens mulheres no cultivo, como um incentivo à geração de renda e também à sucessão rural. A agricultora Raquel Ollermann, de 24 anos, escolheu permanecer na atividade rural por gostar do que faz, além de ter incentivo e apoio dos pais. Junto com a mãe, Jaine, Raquel administra uma das agroindústrias do município e também produz a matéria-prima – a pimenta – a ser processada. “Esse ano não foi melhor pela antracnose. De início a seca parecia que ia judiar, mas depois os pés ficaram bonitos e bem carregados”, conta. Ela comenta que a cada ano busca focar na produção para agroindústria.

Já a jovem Ruara Tuchtenhagen, de 18 anos, é beneficiária do Bolsa Juventude Rural, política pública estadual em que o governo do estado prevê repasse de recursos para os jovens desenvolverem uma atividade própria. O projeto escolhido por ela foi a produção de mudas e pimentas para Festa do Morango e da Pimenta. A jovem relata que gosta da cultura, trabalhando junto com pai, que a incentiva e repassa os conhecimentos que aprendeu com seus pais, numa lavoura de pimenta. Ela ressalta que gosta de acompanhar o desenvolvimento da planta desde o plantio da semente até a colheita, que lhe encanta.

A avó de Ruara Tuchtenhagen, de 18 anos, Verônica Christ Tuchtenhagen, é uma das incentivadoras da jovem. (Foto: Divulgação)

Para isso ela conta com ainda com o Verônica Christ Tuchtenhagen Ruara. Ela também destaca a grande mão de obra necessária para a cultura. “Desde plantar, até colher e escolher é tudo manual. Isso é uma dificuldade”, afirma. Enquanto a vantagem é a rusticidade da planta. Ruara destaca que quer dar continuidade ao cultivo. “Já é quase uma cultura da nossa família. Eu acho bacana continuar na produção e é também uma forma de ficar na propriedade”. No entanto, ela ressalta que a tecnologia pode ajudar a diminuir a penosidade da produção, o que, segundo ela seria interessante.

Mas além do gosto pela produção de pimenta e a vontade de permanecer na agricultura com uma fonte de renda diversificada, valorizada e diferenciada, as jovens produtoras ainda tem em comum o fato de terem realizado o curso de empreendedorismo e desenvolvimento da Juventude Rural.

Raquel fez o curso em 2019 e a Ruara está cursando atualmente. A iniciativa é organizada pela Emater/RS-Ascar e tem por objetivo mostrar aos jovens oportunidades de vida e produção saudável e sustentável no meio rural. E em Turuçu os primeiros resultados já começa a serem colhidos.

A jovem Raquel Ollerman, de 24 anos, é uma das jovens que está desenvolvento a cultura no campo, com novas persperspectivas para o futuro da produção, mas seguindo os ensinamentos dois familiares. (Foto: Divulgação)

Àqueles que tem interesse em conhecer a produção e a enorme gama de produtos a base de pimenta podem ir diretamente à Casa da Pimenta, localizada no km 482 da BR 116, sentido Pelotas-Turuçu. O ponto de comercialização é também sede da Cooperturuçu, cooperativa que congrega agricultores familiares e agroindústrias do município. Atualmente a diretoria da Cooperativa é toda formada por mulheres, as quais a maioria são jovens rurais, tornando-se também uma ferramenta de autonomia feminina.

Assim, a produção de pimenta em Turuçu contribui para a sucessão rural, diversificação produtiva, a permanência dos jovens no campo e também para melhor qualidade de vida no meio rural.

“Todas essas ações e atividades recebem a assistência técnica da Emater/RS-Ascar, a qual busca incentivar a agregação de valor e o cooperativismo para que através da organização rural as famílias consigam acessar políticas públicas que estimulem a permanência de jovens no campo, a autonomia feminina, a melhoria na qualidade de vida das famílias e a valorização da agricultura familiar como categoria social. Resumindo, através de ações interdisciplinares e com a atuação e motivação dos produtores buscamos contribuir para o desenvolvimento sustentável do meio rural, de forma que, em Turuçu, a pimenta é extremamente importante para esse objetivo”, destaca a extensionista rural e engenheira agrônoma Janaína Silva da Rosa.

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