A prefeitura de São Lourenço do Sul acusou profissionais da Santa Casa de Misericórdia do município de negar atendimento a dois pacientes durante o final de semana. O Executivo detalhou os casos em uma nota publicada em uma rede social e no site da administração. Em seguida, o hospital respondeu, e fez novas acusações.
No texto, a administração aponta que o primeiro caso ocorreu nas primeiras horas de funcionamento da Policlínica 24 horas, inaugurada na noite de sábado (31), quando um paciente, de 70 anos, chegou ao local em estado grave. Conforme a prefeitura, o paciente foi “imediatamente atendido e recebendo os procedimentos técnicos pela equipe especializada que atende no Pronto Atendimento, inclusive com a realização de eletrocardiograma e exames laboratoriais”, aponta a nota. No entanto, após a identificação de um caso de alta complexidade, o médico buscou transferência para o Pronto Atendimento da Santa Casa, visto que a policlínica, conforme a prefeitura, destina-se a casos de baixa complexidade. A Santa Casa, no entanto, teria negado o procedimento, por diversas vezes.
“Até mesmo a regulação regional do SAMU recebeu negativa de transferência do paciente para o Pronto Socorro que por força do convênio com o Estado deve realizar este atendimento”, diz a nota. O paciente conseguiu a transferência para o Pronto Socorro de Pelotas, mas acabou falecendo antes da chegada da UTI móvel, que foi acionada pelo município.
O segundo caso ocorreu na noite de domingo (1), conforme a Prefeitura, quando um paciente, de 15 anos, chegou com risco de morte no Pronto Socorro da Santa Casa e necessitava de transferência para Pelotas, por conta da gravidade do caso. Segundo a nota, um profissional da instituição se negou a acompanhar o jovem, o que levou o município a contratar uma UTI Móvel com equipe médica, “tipo de serviço móvel que São Lourenço do Sul nunca teve”, diz a nota. O paciente foi transferido e está internado em Pelotas.
Por fim, a nota aponta que o prefeito do município, Rudinei Härter (PDT), tomará providências. “Diante das negativas dos profissionais médicos do Pronto Socorro da Santa Casa, o prefeito Rudinei Härter tomará todas as providências cabíveis juntos aos órgãos fiscalizadores para que casos semelhantes não se repitam e para que os profissionais envolvidos sejam responsabilizados, pois a saúde dos lourencianos deve sempre ser a prioridade sob qualquer circunstância”, finaliza.
Santa Casa responde
Ainda na noite de segunda-feira (2), a Santa Casa respondeu com uma nota divulgada em rede social em que a instituição aponta equívoco na publicação da prefeitura e afirma que, na Policlínica, o paciente foi atendido, mas não medicado, e que, no local, o aparelho de Eletrocardiograma (ECG) estava trancado em uma sala, e que a enfermeira de plantão foi chamada para abrir o local.
“A sala vermelha não tinha estrutura para realizar massagem cardíaca, pois a maca não possuía tábua rígida. O médico de plantão na Santa Casa relatou a médica de plantão no PA da Policlínica que não poderia aceitar o paciente, pois se tratava de uma emergência cardíaca, pelo fato da Santa Casa não possui Unidade Cardíaca de Terapia Intensiva (UCTI). Essa colega, além de não manejar o paciente com agilidade, solicitou ambulância para transferir o tal paciente, e não utilizou o transporte do município que está à disposição, ao invés de transferi-lo a um hospital de “Alta Complexidade””, diz a nota.
Sobre o transporte de pacientes para serviços de Alta Complexidade, o hospital afirmou que a responsabilidade legal é do município, que deve ter uma equipe completa em ambulância própria. A Santa Casa afirmou, também, que a situação de pacientes cardíacos ou com AVC foram tratadas em reuniões com responsáveis técnicos das instituições e com a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), nas quais, segundo a nota, ficou claro que o correto seria encaminhar esses pacientes diretamente para um hospital de Alta Complexidade, onde há resolutividade.
“Querem mais uma vez colocar a população contra a Santa Casa, quando a responsabilidade a partir do dia 01/08/21 é toda do Município […] pois um Pronto Atendimento 24hs presta serviço de baixa e média complexidade a população, e não apenas de baixa complexidade como está sendo informado”, prossegue.
Em anexo, o Hospital publicou imagens de dois ofícios enviados pela chefe da 3ª (CRS), datados de 17 de junho, que aponta que “o transporte dos pacientes pelo SAMU, será disponibilizado conforme pactuação nos casos onde a distância seja superior a 200KM. O transporte até 200KM de distância a responsabilidade é do município de residência do paciente”. Em outro documento, é especificado que o transporte de paciente para remoção trata-se de “equipe completa e o transporte”.
Sobre o caso do jovem de 15 anos, o Hospital alega que a responsabilidade também era do município, por se tratar de Alta Complexidade, tendo em vista a necessidade de internação em uma UTI, “não cabendo ao profissional médico da Santa Casa fazer o acompanhamento de transferência deste paciente”, indica a nota.
Foi publicado, ainda, um ofício, de segunda-feira (2), assinado pela Secretária Municipal de Saúde, Adriane Hüber Martins, e destinado ao Provedor da Santa Casa, Herbert Buss, em que é informado que quando há necessidade de Ambulância Branca com apenas um técnico para acompanhar o paciente, deve-se ligar para um determinado número, “e o motorista acionará um técnico do plantão na Policlínica 24 horas, e quando for caso de necessitar equipe completa, ligar para o Coordenador do Setor de Transportes da Secretaria Municipal de Saúde”, diz. Segundo o hospital, o município reconhece, neste documento, a responsabilidade no transporte de pacientes.
Em contato com a reportagem do Jornal Tradição Regional, a Prefeitura indicou que não vai responder as declarações.