Segundo o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde (MS) na quarta-feira (27), o Brasil somava 978 casos confirmados da monkeypox. O estado com o maior número era São Paulo, com 744. No Rio Grande do Sul, foram cinco até quinta-feira. Nenhum município da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (3º CRS), que abrange 21 municípios da Zona Sul, registrou casos até o momento. No sábado (23), o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, anunciou que a doença foi declarada como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional.
A medida não foi consenso entre membros do Comitê de Emergência da OMS. No comunicado, Adhanom citou o crescimento, em um mês, de 3.040 casos em 47 países para mais de 16 mil em 75 países, com cinco mortes até sábado (23). “Temos um surto que se espalhou rápido pelo mundo, através de novas formas de transmissão, sobre as quais entendemos muito pouco, e que se encaixa nos critérios do Regulamento Sanitário Internacional. Por essas razões, decidi que a epidemia de monkeypox representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, disse. Segundo ele, o risco é moderado globalmente, exceto na Europa, onde é considerado alto.
Na prática, a ação da OMS aponta que medidas coordenadas internacionais devem ser tomadas para o controle da transmissão do agente infeccioso. “Com a definição, mais recursos podem ser destinados para a criação de estratégias e novas tecnologias, como vacinas e tratamentos, por exemplo, para lidar com esse momento”, explica Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, neurocientista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Também professora na Unisinos e divulgadora de ciências na Rede Análise e Todos Pelas Vacinas, ela aponta que a medida ainda tem importância para que países possam tomar iniciativas para o controle da transmissão localmente, gerando ações integradas no enfrentamento. Na terça-feira (26), o Brasil registrava 813 casos confirmados da doença, de acordo com o Ministério. No mesmo dia, a líder técnica da OMS, Rosamund Lewis, alertou que a situação no país “é muito preocupante”, com possível subnotificação e falta de testes. No entanto, apontou que o surto pode ser interrompido “com estratégias certas nos grupos certos”.
Conforme a Organização, o vírus monkeypox é um agente infeccioso do gênero Orthopoxvirus, da mesma família que o agente causador da varíola humana (ou smallpox), que foi erradicada em 1980, mas clinicamente menos severa. Segundo Arnaldo Medeiros, secretário da Secretaria de Vigilância em Saúde do MS, ela foi diagnosticada e identificada pela primeira vez no século passado, na década de 60, mas não tem nada a ver com macacos. “Na verdade, ela foi identificada primeira nos macacos e, por isso, ficou conhecida no mundo científico como ‘varíola dos macacos’. Essa doença tem caráter endêmico em alguns países da África Central e da África Ocidental”, aponta.
A transmissão da doença se dá por meio do contato com secreções respiratórias, lesões na pele, ou com objetos de forma próxima e prolongada de alguém infectado. “Atualmente também se tem estudado a via de transmissão sexual dentro desse cenário” , cita Mellanie.
Conforme a biomédica, a proteção se da evitando possíveis momentos de exposição a contaminados usando máscaras, higienizando as mãos com álcool em gel 70% ou água com sabonete.
Na quarta-feira (27), Adhanom recomendou que homens que fazem sexo com homens, o que inclui, homossexuais, bissexuais, entre outros, reduzam, neste momento, a quantidade de parceiros, para diminuir os riscos de exposição ao vírus. Ele citou que 98% dos casos foram registrados neste grupo, mas que qualquer pessoa exposta está suscetível. Ainda, reforçou que “estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus e podem alimentar o surto”, disse.
Os sintomas e sinais podem durar de duas a quatro semanas e incluem, em um primeiro momento, febre, dor de cabeça, intensa, inchaço nos linfonodos, dor muscular e cansaço. Depois, evoluem para erupções cutâneas, que se desenvolvem geralmente pelo rosto e depois se espalham para outras partes do corpo e formam uma crosta. Quando esta desaparece, a pessoa deixa de infectar outros.
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Rio Grande do Sul, o diagnóstico é realizado por meio de teste laboratorial ou sequenciamento genético. O teste é realizado em todos aqueles indivíduos que forem enquadrados como casos suspeitos (confira no quadro ao final da reportagem). No momento, as amostras coletadas são direcionadas para laboratórios de referência. No caso do Rio Grande do Sul, é direcionada ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Os outros laboratórios são na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais; na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; e no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os tratamentos para a doença são voltados para os sintomas e lesões cutâneas. Conforme Mellanie, em alguns países, terapias antivirais também estão sendo utilizadas. “Nestes locais, também está se aplicando a vacinação, que pode conferir proteção significativa se administrada em especial naqueles que tem mais risco de exposição, como profissional de saúde, mas também no pós-exposição, especialmente durante os primeiros dias, naqueles que tiveram contatos suspeitos ou positivaram. Infelizmente ainda não temos esse protocolo estabelecido no Brasil”, aponta.
Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou que busca a compra de vacinas contra a doença. Em um primeiro momento, seriam adquiridas cerca de 50 mil doses. No entanto, em nota, esclareceu que a vacinação em massa não é preconizada pela OMS em locais onde a doença não é endêmica, como o Brasil. No país, o primeiro caso foi registrado no dia 9 de junho, em São Paulo. Na terça-feira (25), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o Brasil se preparou para lidar com o vírus. “Desde o início começamos a fazer o diagnóstico e o acesso ao diagnóstico está disponível. Fizemos alertas para as Secretarias Estaduais de Saúde e para as Secretarias Municipais. Os casos são identificados, são isolados”, disse.
Em todo o mundo, eram 20,638 casos confirmados até a tarde de quarta-feira (27), em 77 países, sendo que 71 ainda não haviam registrado a doença. Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, com dados da OMS e Ministérios da Saúde.
No mesmo dia, a Organização Pan-Americana de Saúde, braço da OMS nas Américas, informou que 18 países do continente americano registraram casos, mas nenhum registrou mortes. No Rio Grande do Sul, o último caso confirmado foi registrado no dia 28 de julho, o de uma mulher de Caxias do Sul. Com isso, somam cinco, sendo três em Porto Alegre, um deles o de um homem de Portugal em visita à cidade e uma mulher em Uruguaiana. Todos já passaram por atendimento médico e estão sendo monitorados, assim como seus contatos, pela SES e Secretarias Municipais de Saúde.
Na Zona Sul, não ainda não houve nenhum caso suspeito ou confirmado, conforme a 3ª CRS. A especialista em Saúde da Vigilância Epidemiológica da 3ª CRS, Dóris Schuch, explica que desde o primeiro alerta feito pelo MS, a Rede do Centro Estadual de Vigilância em Saúde vêm participando de reuniões semanais, acompanhando a ocorrência de casos no Brasil e no mundo, assim como as ações de resposta. Nesse sentido, informações como a definição de caso suspeito, formas de transmissão, diagnóstico, entre outras, estão sendo repassados aos municípios com as orientações técnicas para preparação e resposta do sistema de saúde.
“A Vigilância Epidemiológica na região está em alerta e trabalhando com os serviços de saúde para aumentar a sensibilidade na detecção de casos suspeitos e neste caso, desencadear todas as medidas de prevenção necessárias, bem como no sentido de garantir coleta e envio de amostras para o laboratório de referência para exame confirmatório, etc.”
Dóris reforça que a população deve ficar atenta as informações das autoridades sanitárias para as medidas de prevenção e controle, bem como a buscar atendimento médico na unidade de saúde de seu território de residência, no caso de apresentar sintomas e sinais compatíveis com a suspeita de.”As medidas de prevenção devem ser garantidas por cada um e por todos”.