
Até o mês de outubro, quando os produtores realizam o raleio das frutas, o clima é de muita indefinição na cultura do pêssego, com pomares que se encontram na fase de floração em algumas cultivares e de frutificação naquelas mais precoces, como o Bonão e o Granada. Até agora, os produtores fizeram o que tinha que ser feito no manejo dos pomares e a atividade de poda de inverno está concluída, afirma o técnico da Emater Pelotas, engenheiro agrônomo Rodrigo Prestes.
O presidente da Associação dos Produtores de Pêssego de Pelotas e região, Mauro Scheunemann, ressalta que, além da instabilidade climática, pois o mês de setembro ainda pode trazer eventos como geadas tardias, estiagem ou excesso de chuvas, ventos e granizo, um outro fator é alvo de preocupação pelos produtores: o custo de produção, que subiu em média 40% nesta safra em relação à anterior. “Até o momento, as condições climáticas se mostraram favoráveis, especialmente no que diz respeito às horas de frio, importante no período de dormência das plantas e que ficaram acima da média histórica para a região”, diz.

para o aumento de custos na produção foi o reajuste de até 100% nos produtos fitossanitários utilizados no pomar. (Foto: Adilson Cruz/JTR)
E um dos principais fatores para este aumento de custos foram os reajustes de até 100% no valor dos produtos fitossanitários utilizados no pomar, como os herbicidas, fertilizantes, calcário e adubo. “A utilização do calcário, por exemplo, é muito importante na hora da implantação do pomar, pois vai influenciar na capacidade produtiva da planta, que tem uma vida útil média em torno de 15 a 20 anos”, diz o agrônomo da Emater.
O produtor lembra, também, da dificuldade em ter acesso a esses produtos. “Além de mais caros, os produtos fitossanitários também ficaram mais difíceis de serem encontrados no mercado, pois são utilizados em outras culturas como a soja, o milho e o arroz, cujas lavouras já começam a ser planejadas na região”, afirma. Scheunemann explica que outra complexidade existente é relativa à mão de obra especializada que, além de escassa, também contribui para o aumento dos custos de produção, pois acabou ficando cerca de 40% mais cara.

e que foram atingidas pela geada em meados do mês de agosto. (Foto: Adilson Cruz/JTR)
Todos estes fatores contribuem para deixar os produtores desanimados e com dificuldades para cuidar dos seus pomares, o que acaba acarretando na diminuição de algumas áreas. “Se observarmos os pomares agora, tudo leva a crer que teremos uma safra normal, mas ainda é muito cedo para afirmar isso, pois temos mais de um mês de indefinições pela frente”, aponta o presidente.
O produtor Valério Aldrighi concluiu na última semana a poda em seus pomares, localizados na Colônia São Manoel, no interior de Pelotas. Exercendo a atividade há pelo menos 20 anos, ele arrisca dizer que já deverá ter perdas nas variedades mais precoces que estão em início de frutificação e que foram atingidas pela geada em meados do mês de agosto. “No ano passado, uma geada no final de agosto causou queima das gemas e perdas nos frutos”, diz.
Com uma área de três hectares de pomares com as variedades Bonão, Sensação, Granada, Esmeralda, Âmbar, Maciel e Santa Áurea, sua produção, que no ano passado chegou a 40 toneladas, é toda destinada à indústria. A colheita, que começa em torno de 18 de novembro, deve se estender, pelo menos, até o início de janeiro.
Como os demais produtores, ele aponta que seus pomares também foram afetados pela alta nos custos, especialmente por causa do preço dos insumos. “Os investimentos na produção estão muito altos e muitas vezes precisamos ter que cortar alguns gastos”, diz, citando uma alta de 40% a mais no custo médio de produção, provocada pelo aumento de mais de 100% no preço dos herbicidas e adubo. Segundo ele, com os investimentos corretos a sua área possui potencial de produção superior a 60 toneladas.
Cenário na região
No cenário traçado pela Emater, em seu informe conjuntural semanal, restam ainda pequenas áreas para concluir a atividade de poda, que está com 99% dos pomares finalizados na região. A atividade se encerra no mês de agosto, principalmente para as cultivares mais sensíveis no pegamento de frutos. Os produtores deixam estas cultivares por último como uma das estratégias utilizadas para aumentar a frutificação efetiva dos pomares, especialmente nas cultivares Granada e Santa Áurea.
Com os pessegueiros predominantemente na fase de frutificação, os produtores já realizaram a aplicação da primeira adubação de um total de até três aplicações, dos que fazem as adubações parceladamente, ou a adubação total para os que aplicam em uma única vez. O total de adubo por planta fica entre 600 gramas a um quilo por planta, podendo chegar a 1,2 quilos em pessegueiros maiores e com frutificação boa à ótima. A variação é em função do tamanho dos pessegueiros e da frutificação efetiva.
O número de horas de frio iguais e inferiores a 7,2ºC acumulados até a segunda semana de agosto de 2021 está em 429 horas, quantidade significativa quando comparada com à média histórica para os meses de maio, junho e julho que, somados, alcançam 323 horas. Juntas, as médias históricas de maio, junho, julho e agosto totalizam a quantia de 496 horas. Com isto já estão acumuladas horas de frio acima da média histórica na região.
Os produtores intensificaram as aplicações dos tratamentos fitossanitários, pulverizando fungicidas na floração e nos estágios de frutificação dos pessegueiros. Todos os pomares da região estão com o solo coberto, alguns através de plantas de cobertura do solo semeadas, principalmente a aveia preta, enquanto outros estão apenas com a vegetação espontânea que se desenvolveu. Produtores estão realizando o manejo destas plantas de cobertura utilizando, principalmente, herbicidas.
Eles também continuam adquirindo os insumos para a safra. Todos confirmam a elevação significativa nos preços, principalmente dos fertilizantes. Será preciso um reajuste significativo nos valores do quilo do pêssego entregue nas fábricas para a próxima safra, para compensar as altas nos custos de produção, viabilizando a continuidade da cadeia produtiva.
As agroindústrias da região confirmaram o recebimento da safra futura 2021/2022, com previsão de safra normal de pêssegos tipo indústria. Esta previsão deverá ser revisada em razão de que ocorreram dias de muito frio e chuva congelada na fase de plena floração e frutificação, que poderá impactar no pegamento dos frutos e afetar a frutificação efetiva dos pomares.