
Uma cultura histórica na região, a noz-pecã vem despertando maior interesse por parte dos produtores da região, após trabalho de orientação realizado pela pesquisa. “A partir do momento em que a Embrapa começou a fazer seu trabalho de pesquisa e atuar mais fortemente na geração de informações técnicas e no trabalho de transferência de tecnologia, estes novos pomares e aqueles que já cultivam, passaram a conhecer a necessidade de fazer algumas práticas, tratos culturais de manejo do pomar, para que se possa produzir frutas e nozes em quantidade e qualidade”, diz o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, Carlos Martins.
Segundo Martins, a época de colheita na região Sul do Brasil normalmente inicia, de uma forma geral, a partir da segunda quinzena e final de abril com as cultivares mais precoces e, dependendo das cultivares que estejam plantadas no pomar, se estende até o mês de junho, com as variedades mais tardias. “Há cultivares que podem ser intercaladas para obter períodos diferentes de colheita”, explica Martins.
O pesquisador destaca que, além da questão tradicional, o interesse pela nogueira pecã vem de sua colheita em uma época diferente de outras frutíferas. A cultura vem sendo vista como alternativa, justamente, porque nesta época já foram colhidas outras frutas como pêssego, figo, amora, por exemplo. “Torna-se uma outra possibilidade de ampliar a entrada de renda na propriedade”, diz.
Além disso, ela permite a consorciação com lavoura, pecuária, exploração com bovinos, ovinos, galinhas, enfim, aceita o cultivo, na mesma área, de noz-pecã e outras culturas. “Comparativamente a outras culturas ela exige uma menor mão de obra, mas exige, também, que essa seja qualificada, saiba manejar estas plantas”, disse o pesquisador. Ele cita ainda como vantagens ao produtor a valorização de mercado e a demanda pelo produto.
A estimativa é de que existam, na Zona Sul, aproximadamente, de 300 a 500 hectares de nogueira pecã e, em grande parte, pelo menos 70% são pomares novos. Segundo o pesquisador, quanto ao potencial produtivo da cultura, já está disponível para o produtor o zoneamento edafoclimático, não só para a Zona Sul, mas para a região Sul do país como um todo, com os indicativos dentro de uma visão macro, as recomendações de áreas preferenciais e recomendadas, e não preferenciais para o cultivo de noz-pecã. “Entre as menos recomendadas estão terras de baixadas onde as áreas são, com frequência, mal drenadas, com uma quantidade de umidade acima de 80% em grande parte do ano”, ressalta Martins.
Além destas questões da drenagem e condições climáticas, o pesquisador aponta que a temperatura nessas regiões também não é muito adequada, devido a poucas horas de frio, principalmente nas áreas litorâneas. “Nestas regiões não há uma recomendação de cultivo e de plantio de noz-pecã. Exemplos da nossa região: em solos de área de arroz também não se recomenda pelas características físicas e químicas deste solo, que impõem certa limitação ao cultivo de noz-pecã”, afirma.
Segundo o pesquisador, este zoneamento apresenta uma visão macro e o ideal seria que se pudesse realizar um estudo mais minucioso, indicando por município e por uma visão mais aproximada daquelas áreas que realmente são limitantes ao cultivo e aquelas que possibilitam o cultivo com maior sucesso.
Martins ressalta, ainda, que outra questão envolve o potencial do cultivo: o interesse histórico, pelo fato de a nogueira estar presente na colônia de Pelotas e Canguçu há muito tempo. “Se observarmos as pequenas propriedades, elas já tinham noz-pecã, e ainda têm, a planta sendo cultivada há muito tempo, desde as décadas de 60, 70, do século passado”, ressalta. Segundo ele, este fato histórico, de certa forma, comprova o potencial de cultivo desta planta, mesmo que não tivessem o devido manejo e que pudessem ser exploradas de uma forma mais sustentável.
Martins explica que algumas propriedades cultivam três, quatro pés de nogueira. Outras têm de 1 a 2 hectares, 200 a 300 plantas, e assim vão tendo as dimensões diferentes. No interior de Pelotas, em Morro Redondo, Canguçu, Capão do Leão são encontradas propriedades com os cultivos mais antigos.
Na década de 60 e 70, houve a lei de incentivo fiscal, um programa de governo que incentivou plantios e cultivo de noz-pecã. “Uma empresa localizada no interior de Pelotas tinha duas mil plantas de nogueira pecã, que foram plantadas e colhidas durante um tempo e depois abandonadas”, ressalta. Martins conta que, posteriormente, a falta de incentivo, pesquisa e manejo dos pomares ocasionou a queda de produção e, consequentemente, uma desmotivação e desmobilização na produção.
O investimento na cultura foi vendido de forma errônea, de que podia trazer aposentadoria com altos rendimentos. “Foi vendida a ideia de que se plantava e colhia rapidamente com valorização boa, altos rendimentos sem muito esforço”, observa. Segundo ele, a nogueira demora a produzir, pois entra em produção de forma mais aguda no sétimo ou oitavo ano e alcança a plena produção de 13 a 15 anos. “Além de necessitar de manejo, adubação, poda, tratamentos fitossanitários, equipamentos adequados para colheita, pulverizações, então [uma cultura] que exige investimento”, diz.
De acordo com o pesquisador, em síntese, a região possui as condições edafoclimáticas em algumas áreas, que são indicadas e potencialmente boas para o cultivo. Estas condições já foram demonstradas pelo fato histórico, de áreas cultivadas com nogueira pecã e algumas plantas com mais de 30 ou 40 anos, e que continuam produzindo, o que de certa forma, demonstra este grande potencial de cultivo.
Recomendações técnicas
Entre as recomendações técnicas, algumas informações são cruciais como, por exemplo, não fazer o plantio ou implantação de pomares em áreas com má drenagem ou excesso de umidade. “Isso faz com que as nogueiras não se desenvolvam adequadamente e não produzam de forma adequada”, ressalta.
O pesquisador alerta ainda para a necessidade do cultivo com cultivares enxertadas. “Por incrível que pareça, existem alguns pomares de pé franco que produzem e conseguem, mas a noz não é de boa qualidade”, destaca. Ela precisa ter polinizadoras, e isso vai conferir que as frutas sejam de melhor qualidade.
Segundo o pesquisador, isso é importante porque, às vezes, as pessoas dizem ter apenas um pé de nogueira, e que esse produz bastante. “Produz muito, às vezes ano sim, ano não, mas a qualidade não é interessante para o processamento, ela dá diferentes bitolas, tamanhos, não preenche adequadamente, então tem uma série de questões que conferem a qualidade desta fruta que é muito atribuída às questões das cultivares”, afirma. “É importante ter uma cultivar principal e cultivares polinizadoras que também vão produzir noz-pecã”, complementa.
A recomendação é de uma cultivar produtora e três a quatro polinizadoras porque, dependendo das condições do ano, não há coincidência de floração entre uma cultivar e outra. Em algum momento elas terão a coincidência de floração e podem fazer a polinização.
Algumas destas cultivares têm um maior período de coincidência de floração que outras. Por isso, é interessante sempre consultar um técnico ou a Embrapa, pois existem publicações que remetem a indicação de um maior ou menor período de coincidência de floração.
Martins explica que, após a colheita, as nozes saem do campo com 10, 14 ou até 20% de umidade, e devem ser secas semelhante ao milho, com ventilação, em galpões com uso de ventiladores, secagem em sombra. Após, elas são classificadas, retiradas as impurezas, quebradas, marcadas para que então sejam embaladas em sacos de cebola, que permita esta troca de ar. Após, são encaminhadas às agroindústrias para quebrar e tirar a amêndoa, para que ela esteja apta ao consumo e à comercialização.
Nos pomares mais recentes, com cultivares já identificadas e marcadas, é importante a colheita por cultivar e depois classificação por tamanho. “Quando se tem um material com frutas bem classificadas, limpas, com tamanhos semelhantes e evidentemente secas, condicionam uma valorização do produto diferenciada pelas agroindústrias”, destaca. Isto confere um pouco mais trabalho para o produtor, mas será um diferencial, e irá facilitar o trabalho de descascamento, quebra da nozes, separação, classificação e embalagem.
A demanda de noz-pecã no mercado mundial teve reflexos no mercado nacional. Houve aumento do consumo em virtude da valorização e do reconhecimento desta fruta sobre as suas propriedades, considerando que contam com elementos nutricionais importantes e, por ser considerado um fruto seco, traz benefícios no seu consumo, principalmente para a saúde.
Projeto Pecan 2030
Em maio deste ano, a Embrapa Clima Temperado assinou acordo de cooperação técnica com o Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan). O objetivo da parceria é dar suporte tecnológico e promover o crescimento sustentável da cadeia produtiva.
Chamado “Pecan 2030”, o projeto irá captar recursos, desenvolver e transferir tecnologias e elaborar estratégias com base nas metas do setor para 2030. Estão previstas atividades para definição do padrão qualitativo de mudas e de nozes e para estabelecimento e adoção de boas práticas agrícolas. A expectativa é qualificar os pomares e atingir entre 25 mil e 30 mil hectares plantados no país nos próximos dez anos.
O projeto também busca dar suporte técnico à elaboração de políticas públicas e à proposição de normas técnicas para a Produção Integrada da Nogueira-pecã, de maneira a viabilizar a rastreabilidade e a certificação, o que ajudará a acessar novos mercados com a exportação das nozes. Por enquanto, o país ainda importa: foram 125 toneladas importadas da Argentina na safra 2019-2020.
Cadeia produtiva
Segundo dados da Embrapa e do International Nut and Dried Fruit (INC), neste ano, a expectativa é superar a marca de 4,5 mil toneladas colhidas, com produtividade média estimada em uma tonelada por hectare. Ao todo, são cerca de dez mil hectares cultivados no país, sendo 70% no RS, 22% em Santa Catarina e 8% no Paraná. Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de noz-pecã.