Estiagem pode causar perda de mais de R$ 1 bilhão na Zona Sul

Barragem de Pinheiro Machado (Foto: Gabriel Medeiros/JTR)

Histórica, com grande impacto na Zona Sul. Assim pode ser definida a estiagem enfrentada pela região desde o final de novembro de 2019. Denominada por produtores rurais como “seca verde” – pela visualização dessa cor nas plantas –, as produções foram seriamente comprometidas por consequência da falta de chuvas.

Os últimos volumes registrados no início de abril não foram suficientes para reverter a situação. Conforme o engenheiro agrônomo e assistente técnico regional de sistemas de produção vegetal Emater/RS-Ascar, Evair Ehlert, as culturas de verão estão finalizadas, como soja, milho grão, milho para silagem, feijão e arroz irrigado – único que beneficiou-se com a situação climática, com expectativa de colheita dentro da normalidade. Ainda, há prejuízos nas cadeias produtivas do tabaco, do leite e de bovinos de corte.

Na economia regional, a estimativa da Emater/RS-Ascar é que deixe de circular mais de R$ 1 bilhão devido aos prejuízos nos grãos, com grande perda na soja (R$ 713.101.916,33), conforme os dados divulgados na terça-feira (7). Ainda, soma-se o milho em grão (R$ 105.773.837,50), o feijão (R$ 4.593.386,76), o milho para silagem (R$ 21.898.416,00) e o tabaco (R$ 325.913.760,00).

“Precisa chover muito, mas em volumes que não ultrapassem 20 milímetros/dia, bem distribuídos, possibilitando a infiltração no solo e chegando aos lençóis subterrâneos de água”, afirma Ehlert.

Além da necessidade de recuperação dos mananciais de água nas propriedades rurais para garantir o abastecimento familiar na zona rural e dessedentação dos animais, também é preciso o aumento na vazão das nascentes, córregos e arroios para recuperar o nível das barragens que atendem também as áreas urbanas. Um exemplo é a barragem Santa Bárbara, em Pelotas, que registrou na segunda-feira (6) 2m98cm abaixo do nível ideal de captação.

Quando houver a normalização das chuvas, uma das áreas que poderá ter novas semeaduras é a olericultura, com hortaliças de meia estação e de inverno. Além da seca, esta cultura, segundo o extensionista, também sente a queda na demanda e de consumo, por causa do isolamento social adotado como medida de combate ao novo coronavírus (Covid-19).

Consequências na pecuária

Com a queda de temperatura registrada nos últimos dias, caso seja mantido o clima e haja chuva, as pastagens de inverno terão estímulo para o desenvolvimento por causa da umidade, podendo haver recuperação naquelas que foram recém germinadas, como o azevém. “Já o campo nativo começa perder a qualidade, por entrar no período de reprodução, porque a maioria das espécies é do ciclo de verão. Mas se não chegar temperaturas mais baixas neste mês, pode ajudar a manter [produção e pesagem corporal dos animais]”, explica o médico veterinário e supervisor regional da Emater/RS-Ascar, Luiz Ignácio Jacques.

De acordo com ele, houve uma melhora no rebanho ovino, com índice positivo nos fios, bem como na gestação. Já a produção de terneiros teve uma queda, pela falta de pasto, não conseguindo desenvolver adequadamente o ciclo. No gado de leite, houve uma queda maior, reflexo da exigência nutricional ocasionada pela produção leiteira demandada diariamente.

No setor leiteiro, a perspectiva a curto prazo é negativa. “Agora, em abril, entramos no período chamado vazio forrageiro, porque terminaram as pastagens de verão, e as de inverno estão recém germinando, muitos ainda estão implantando”, diz Jacques, complementando que neste período, os produtores encontram como alternativa suplementos e concentrados para manter a produção, o que encarece a atividade.

Previsão do tempo

Conforme o boletim meteorológico divulgado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), após o período de Páscoa, poderá haver passagem de uma frente fria com retorno de tempestades e chuvas significativas no estado, especialmente entre a próxima segunda (13) e terça-feira (14).

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