Assim como toda a data é marcada por uma característica peculiar, não há como dissociar o Dia do Colono, comemorado em 25 de julho, da floração dos pessegueiros, que se encontra em plena atividade nesta época do ano. Sob forte influência do clima e com necessidade de um número determinado de horas de frio iguais ou inferiores a sete graus para a quebra de dormência, a florada é um indicativo para o produtor de como deverá ser a safra, que para as variedades mais precoces como a Libra, Bonão e Precocinho já começam a ser colhidas entre o final de setembro e início de outubro. Nestas, a floração já começou em meados de julho e deve atingir sua atividade plena nos próximos dias.
Mas a sensação entre os produtores ainda é de indefinição. Com a pandemia de coronavírus e a necessidade do distanciamento social, não foi possível realizar as costumeiras reuniões de planejamento e tudo ainda é uma grande incógnita, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Pêssego da Região de Pelotas (APPRP), Mauro Scheunemann.
Porta-voz dos produtores junto ao mercado e às indústrias, Scheunemann diz que esperam um sinal da indústria, pois há um temor entre eles de que a Covid-19 se prolongue até a época da industrialização da fruta, inviabilizando a contratação de mão de obra ao processamento da fruta, porque não pode haver aglomeração. “A expectativa é de uma boa safra, porém há essa inquietação por parte de alguns produtores de que haja a fruta, mas não tenha como processá-la”, comenta. Para muitos, a saída pode ser a venda in natura.
De acordo com o produtor, os pessegueiros resistiram bem à seca ocorrida no primeiro semestre deste ano, no entanto, acredita ainda ser cedo para projetar como será a safra, já que a plena floração deve ocorrer ao longo desta semana. Enquanto isso, os cuidados nos pomares são intensivos com limpeza, poda e aplicações dos tratamentos de inverno, especialmente as preventivas realizadas durante a floração.
Segundo a Emater/RS, o inverno mais seco e com temperaturas mais baixas, além de frentes frias avançando com força em todo o inverno, resulta em um acumulado de horas de frio considerado positivo, necessários para a boa quebra de dormência natural, floração e pegamento de frutos.
Dados da Embrapa Clima Temperado apontam o acumulado até a terceira semana de julho, de 157 horas de frio menores e igual a 7ºC, mas ainda inferiores à média histórica para os meses de maio e junho, que é de 188 horas.
Tradicional produtora de pêssegos em calda do estado e do país, a região tem implantados 4.962 hectares de pomares de pêssegos, com tamanho médio de cinco hectares, a grande maioria destinados para às indústrias locais de processamento da fruta, principalmente em calda e, ainda, polpa, sucos, saladas de frutas e doce em pasta. Informações da Emater apontam que a atividade envolve 953 produtores em toda a região. Pelotas ainda é o maior produtor, com a maior área cultivada, 2,7 mil hectares, e o maior número de famílias envolvidas, 605 persicultores. A produção média anual varia entre 60 e 70 milhões de quilos da fruta e fabricação de 60 milhões de latas de pêssego em calda. A fruta da região é comercializada em todo o Brasil.
A atividade centenária na região é exercida ainda nos municípios de Canguçu, Morro Redondo, Capão do Leão, Arroio do Padre, São Lourenço do Sul e Cerrito. Antes da quebra da dormência, os produtores já iniciam as primeiras intervenções no pomar, com a poda, feita entre os meses de maio e agosto. Após a floração, quando as frutas atingem por volta de 20 milímetros, é hora de fazer o raleio, quando o produtor decide quais irão se tornar adultas, realizado entre os meses de setembro e outubro. O auge da colheita se dá entre novembro e janeiro.
Entre as variedades mais plantadas, por ordem de colheita, e destinadas à indústria estão Granada – de dupla finalidade –, Bonão, Precocinho, Sensação, Jade, Esmeralda, Maciel e Eldorado. De mesa, a mais plantada é a Chimarrita.
Anualmente, em dezembro, os produtores celebram a safra durante a Festa do Pêssego, realizada na Indústria Show, em Pelotas, com entrada pela BR-392 em frente ao trevo de acesso ao município de Morro Redondo.