A Petrobras anunciou, na terça-feira (17), uma nova política de preços para os combustíveis. A mudança tem relação direta com uma das principais promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que visava “abrasileirar” o preço da gasolina.
Com a nova política, o Preço de Paridade de Importação (PPI) deixa de ser utilizado como referência na precificação do produto. A partir do anúncio, será considerado o custo alternativo do cliente como prioridade, além do valor marginal para a Petrobras.
Mesmo relacionada com a proposta feita por Lula, a troca não se baseia apenas em uma jogada política, como explica Marcelo de Oliveira Passos, economista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
“A Petrobras e o próprio presidente Lula com essa medida dão a entender que a decisão sobre preços é uma questão de vontade política do presidente ou do presidente da Petrobras, mas não é. A Petrobras tem uma lógica empresarial, e ela não permite sempre redução de preços, então por isso que isso foi vendido como uma conquista, mas é uma conquista temporária. Enquanto o mercado tá favorável, a Petrobras consegue manter preços baixos, mas isso não vai durar pra sempre”, ressalta.
Ele detalha que a precificação segue quatro variáveis, sendo que a tendência de preços do barril tipo Brent (PPI), é a principal. “A precificação dos combustíveis segue o PPI, que é o Preço de Paridade de Importação. O PPI não acabou, a Petrobras continuará usando o PPI, então ela vai basear o preço dos seus combustíveis de acordo com a variação do barril tipo Brent, que é definido fora do país, no mercado de commodities, o petróleo é uma commodity”, comenta.
Também são consideradas a situação do abastecimento e estabilidade da demanda, as condições de importação e a questão política, que se relaciona com a vontade de reduzir os preços. Passos explica que inúmeras situações impactam diretamente na variação dos combustíveis, e por isso não é possível prever quedas contínuas nos preços. “É difícil fazer uma previsão agora e dizer que, por exemplo, os preços vão se manter baixos ou subir, o que vai acontecer é a Petrobras, sempre que puder, ser mais ativa na redução de preços, mas não quer dizer que ela não vá aumentar quando a situação permitir, ela pode aumentar preços quando a situação virar”, pontua.
Portanto, os consumidores não devem esperar preços mais baratos o tempo todo. O economista reforça que, caso o governo insista na redução de preços conforme a vontade, o preço do barril importado ficará mais caro, afetando a receita da Petrobras, o que pode provocar a redução do lucro e aumento do endividamento da empresa.
João Carlos Dal’Aqua, presidente do Sindicato Intermunicipal de Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do RS (Sulpetro), afirma que o momento é de cautela para analisar a influência que a mudança terá sobre o preço dos combustíveis. “O Sulpetro recebe essa mudança na sistemática com cautela, porque a gente precisa ver na prática como que vai funcionar. É um assunto novo e a gente fica preocupado porque poderá, na sequência, ter reflexos”, declara.
Dal’Aqua salienta que a redução no preço dos combustíveis registrada nesta semana ocorreu em função de uma queda no valor do barril e, portanto, não possui relação com o anúncio feito pela Petrobras. Conforme ele, a interferência do comunicado nos valores vistos nas bombas dependerá da velocidade que as distribuidoras repassarem as reduções.
“Com relação a se vai melhorar ou piorar? Só o tempo vai nos dizer. Nossa preocupação é que não falte produto, que em momentos de crise a Petrobras tenha condições de suprir, porque a gente sabe que o Brasil ainda tem um refino deficiente”, fala. O presidente do sindicato reforça que já projetava a troca de referência, mas espera que a empresa considere o mercado exterior quando necessário.
“É um cenário novo, que a gente vai ter que aprender a como se movimentar nele e por isso que tem que ter cautela nesse momento. Era inevitável que o governo ia fazer, porque já tinha anunciado, mas a gente pelo menos têm esperança de que isso não seja um descolamento total do preço internacional com os reflexos anteriores já conhecidos”, completa.