Com o advento das redes sociais, passamos a viver transformações significativas. As pessoas consideradas fontes dos jornalistas passaram a ocupar um novo lugar, pois quando cada um é sujeito da comunicação em suas redes sociais, este assume o papel de emissor da informação, entregando aos seguidores o conteúdo.
Cabe lembrar que parte do conteúdo político publicado nas redes sociais está a serviço da desinformação e serve para reforçar uma opinião recorrente entre determinado grupo. Neste sentido, é bom lembrar que a opinião pressupõe a verdade do emissor. Muitos cidadãos comuns, contudo, emissores, são movidos por uma passionalidade política, sendo assim, reproduzem postagens sem prévia análise crítica e, quando confrontados com outra verdade que não a sua, apresentam um discurso vazio que, por meio da contestação, serve apenas como rota de fuga nesse enfrentamento que a discussão política requer.
Não entendeu o que escrevi? Vamos melhorar! Uma parcela significativa da população foi estimulada pela retórica, isto é, pelo discurso político. Estas pessoas tornaram-se ativistas políticas, publicando conteúdos em suas redes sociais e, principalmente, discutindo política. No entanto, quando a discussão política exige um pouco mais de conhecimento teórico, o que acontece? A maioria desse grupo pega a rota de fuga para sustentar sua opinião na defesa de um político supostamente honesto, aponta o passado e condutas ilegais e algumas até criminosas dos opositores, como se a discussão e a análise política se resumissem em si, justificada da seguinte forma: se o meu candidato errou, foi corrupto, o teu foi pior e isso basta para defender um pensamento amparado apenas por opinião e fortalece o discurso em que os erros e os crimes de um político na administração pública concedem o direito ou justificam erros e crimes iguais daqueles que sucederam corruptos.
Dessa forma, entramos num espiral de corrupção e desonestidade que arrastou não somente políticos, mas profissionais de todas as áreas: médicos, advogados, juízes, policiais… Pessoas e profissões que, em sua grande maioria, num passado não tão distante, eram nossas referências positivas e, hoje, figuram nas manchetes sobre corrupção e crimes diversos.
Estas condutas alimentam, além da disputa política, a luta por espaço nas redes sociais como protagonistas de informações, a maioria, sem perceber, disputa qual político vai determinar o comportamento que ela deve ter e quais discursos devem reproduzir na defesa de supostos ideais, principalmente discursos que trazem elementos do passado. Assim, são fisgados por sentimentos e condutas do passado. Muitas dessas condutas não foram preservadas na própria família, dentro do lar e, agora, para justificar um discurso político são trazidos de volta.
Este ódio alimenta as divergências e não dá espaço para que se fale de amor. Daí, você leitor(a) vai me dizer: “mas na minha religião falamos de amor!”. Eu concordo! Todavia, vou te perguntar: por que as religiões que pregam o amor se enfiaram na política que vem causando tanta desavença pregando o ódio?
Parte dos brasileiros não sabem mais falar de amizade, de carinho, a não ser com aqueles que pensam igual. Se não pensar igual, deixa de existir, tudo o que foi construído de amizade e de carinho no passado desaparece e, a partir daí, aquela pessoa não serve mais como amigo(a) e até como familiar somente porque pensa a política de forma diferente.
Se você acha ruim perder uma amizade por conta de divergências políticas, tem coisa pior! Pois a polarização instaurada no país nos encolheu, nos apequenou, nos diminuiu ao ponto em que perdemos o direito de pensar, de se posicionar, já que caso você ouse pensar diferente de seu interlocutor, acaba sendo rotulado e pertence ao outro lado.
Todos aqueles que não compactuam com o extremismo, que não se colocam no eixo ideológico nem da esquerda nem da direita perderam o lugar na discussão política. Isso é pequeno demais, é uma visão tão estreita que alimenta o conflito reduzindo a política e o direito de pensar a dois campos ideológicos, direita e esquerda, quando deveríamos discutir também sobre progressismo e liberalismo, campos que interferem direta e objetivamente na vida das pessoas.