Virando a página

Demorei algum tempo e muitos tropeços para me certificar e confirmar através de fatos que nada acontece por acaso e inevitável é o destino de todos. Além do mais, a sequência dos eventos da vida fez com que eu constatasse que, se num primeiro momento, a sensação que provocam é de desconforto e desagrado, logo adiante pode ser transformada em prazer e tranquilidade. O oposto também ocorre. O ciclo é constante e perfeito na sabedoria oportuna das engrenagens dos acontecimentos.

Encontros e desencontros têm suas ocorrências traçadas em páginas que devemos ler com atenção, muita atenção, para não termos que folheá-las novamente.

A lição é simples: uma vez lida por inteiro e assimilada, vira-se para a página seguinte e, assim, vamos aprendendo os ensinamentos de cada linha, tornando-
nos instruídos na arte de viver, tentando não repetir erros, experimentando mais acertos, abrindo-nos para o inédito e seguindo em frente.

Voltar atrás para reler, nem pensar!  É um grande equívoco a evitar.

A página que nos espera é fascinante. Pode até trazer resquícios de algo que já sabemos, mas vem com outra roupagem, sempre passível de renovar, em nós, o que nos reserva o acaso do nunca lido e sempre esperado.

Não guardemos páginas antigas para relê-las depois, não arquivemos lembranças passadas como se fossem roupas que guardamos no armário porque podemos vir a precisar delas nalgum dia.

As recordações são memórias do que não voltará.  Arquivos selados são o melhor lugar para elas.

Só se permite a chegada do novo, do recente, se encerramos o velho como uma cortina cerrada de teatro quando o espetáculo acaba e as luzes se apagam ao fim do último ato.

Hoje é a véspera do amanhã que nasce e o ontem foi enterrado com a morte do que deixou de existir. E, de repente, podemos nos deparar com uma página original que prolongue a leitura e as descobertas por um largo tempo de inúmeras vindimas.

O acaso é o senhor dos destinos e reúne, nos cruzamentos das ruas, os passageiros do tempo. Tempo de acontecer.  Tempo de deixar a vida acontecer no imprevisto do instante em que os sinais se encontram e os olhares se descobrem.

Nada melhor do que abrir os braços para a revelação do único, nada mais gratificante do que abrir os olhos e virar a página para a continuação da história da própria existência.

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