Sem limites

Muito além do que se possa explicar é saber o outro. É bem mais do que amor, tantas vezes vulgarizado ou equivocado por errôneas interpretações. Aliás, amor não se interpreta. Tal performance é assunto para um tratado de conhecimento que poucos mortais logram alcançar.

Deixemos de falar, pois, do mérito de um sentimento que é maior do que possa, nossa vã filosofia, descrever.

Ao invés disso, vamos tentar discorrer sobre a simplicidade de saber o outro, de percorrer suas cavernas subcutâneas com uma lamparina acesa, iluminando cada detalhe feio ou bonito.

Falemos das conversas sussurradas, de noites em claro, de risadas sonoras, de passos no corredor, de angústias e insônias resgatadas. Falemos de viagens que nos transportam à presença do outro nas visões dos sonhos.  Falemos da compreensão que dispensa palavras e justifica o silêncio.  Falemos da ternura do gesto, do brilho no sorriso e, principalmente, do encanto do olhar.

Ah! O olhar daquele que sabe o outro! A clareza que dissipa as sombras, a resposta para todas as carências. A companhia que independe da distância e existe apesar de tudo que se interponha entre os que se sabem.

Saber o outro é mais do que amar o outro.  É o afeto redimido e recompensado.  Portanto, categórico e definitivo.

Saber o outro é ser responsável, é ser coautor, é ser cúmplice. Cumplicidade anterior ao próprio saber-se. Cumplicidade que supera as limitações pessoais. Cumplicidade que oportuniza o voo livre com asas abertas para saborear o mergulho no profundo do outro, confiante no pouso seguro.

Saber o outro é ler nas entrelinhas. É aceitá-lo sem impor condições, por sabê-lo complemento.  É não exigir.  É saber respeitar.

Saber o outro é sintonia fina dos sentidos. É dar espaço e tempo. É ancorar na margem descoberta depois de muitas viagens. É poder pisar em terra firme, encontrando abrigo. É estender as mãos e acolher no abraço invisível.

Saber o outro é saber-se multiplicado em dobro, dividindo o melhor e o pior de si mesmo em duas porções iguais.  O banquete é sempre duplo.

Saber o outro é amá-lo sem barreiras, limites ou condições. É sensibilidade de pele e perspicácia de alma. Uma das grandes venturas e aventuras do ato de viver.

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