Rio São Gonçalo

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Há um mapa antigo na Biblioteca Nacional (feito em 1838) que destaca o Rio São Gonçalo. O mesmo que hoje é reconhecido como Canal, visto rio ser um grande curso de água que corre sempre no mesmo sentido. Tempos depois da feitura do mapa, perceberam que naqueles 76 km as águas correm pra lá e pra cá. É curso d’água, mas tecnicamente é um canal.

Liga a Lagoa dos Patos à Lagoa Mirim. Dependendo do nível de água em cada uma das lagoas, varia a corrente. Até a década de 1970, quando foi feita a eclusa, era normal a entrada de água do mar até a Lagoa Mirim em tempos de estiagem, pois a mesma saída de água doce – quando há cheia na Lagoa dos Patos – é a entrada de água salgada quando a seca a atinge. Por isso, tecnicamente passou a ser designada como Laguna dos Patos.

São Gonçalo é um santo português que não nasceu em Portugal. E não é santo. É beato. Teve processo de beatificação conforme as normas do direito canônico, mas não avançou para a fase seguinte. A canonização ainda pode acontecer, mas tecnicamente ele ainda é Beato Gonçalo.

Assim, temos um rio que não é rio, um santo que não é santo, uma lagoa que não é lagoa. Difícil traduzir e explicar para algum estrangeiro que tente entender o cenário.

Feito santo pela crendice popular, Gonçalo é conhecido por uma característica peculiar na especialidade onde o craque é Santo Antônio. É o casamenteiro de devoção das moças bem mais velhas, que a ele recorrem numa espécie de tribunal superior da fé. Não casou com ajuda de Santo Antônio, recorre-se a instância superior, com velas acesas a São Gonçalo. Santo Antônio, de Pádua, não esqueçamos, embora cultuado ardorosamente pelos italianos, é português lisboeta. E diz a lenda que Gonçalo desencalhou muita gente ao longo dos séculos. Por isso foi santificado pelas devotas, apesar de seu processo santificatório solenemente permanecer atracado no Vaticano.

E os Patos. Não são aves que lá nadavam. Eram a tribo dos Patos, índios que lá abundavam naqueles tempos remotos, quando o nome foi escolhido. Mirim, da lagoa mais ao sul, também tem nome de origem indígena, pois em Tupi significa “pequeno/pequena”, apesar de ser uma respeitável lagoa doble chapa suficientemente grande para ter uma parte no Brasil e parte significativa no Uruguai.

De fato, assuntos difíceis de traduzir e explicar…

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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