Pelotas e a simbiose com o transporte rodoviário

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Folhando as páginas da história, chegamos ao ano de 1934. Ano que Ma­nuel Marques da Fonseca Júnior, um menino que, aos 9 anos de idade, junto de sua família, vindo da terra de Pardilhó, em Portugal, para o Brasil, se estabelece no sul do Rio Grande do Sul.

E foi aqui, poucos anos mais tarde, na cidade de Pelotas que ele iniciou no ramo de transporte. O primeiro veículo a motor foi comprado em 1943, um caminhão Studebaker, adquirido com o dinheiro resultante da venda de seu primeiro investimento empresarial, o Armazém Mineral, localiza­do no bairro Fragata.

O Studebaker foi o início da frota. Seis anos mais tarde, em 1952, Fonseca Júnior adquiriu quatro caminhões da marca Chevrolet e, no ano seguinte, deu vida à transportadora Fonseca Junior, que se consolidou no cenário das entregas, possibilitando mais tarde a aquisição do expresso Pelotas Rio Grande, cujo nome foi alterado posteriormente para Expresso Fonseca Júnior e, hoje, Expresso Embaixador.

O nome e a história tornaram Manuel Marques da Fonseca Junior e sua sucessão familiar embaixadores de Pelotas e Zona Sul no transporte de cargas e passageiros.

Avançando duas décadas, com a construção da malha rodoviária brasileira nos idos de 1970, Pelotas se torna um ponto de intersecção das seguintes rodovias, BRs 116, 471, 392 e 293. Esta geografia colocou o município na condição de Polo Regional.

Folhando mais algumas páginas, entre as décadas de 70 e 80, um grande Parque Industrial consolidava o município como polo econômico. Usu­fruindo da memória e contando que esta não me cause nenhum engano, quatro grandes frigoríficos – Anglo, Cooperativa Sudeste, Riopel e Extre­mo Sul – abatiam milhares de cabeças de gado diariamente, atividade que produziu grande fluxo de cargas, tanto para o transporte rodoviário quanto para o marítimo através das exportações.

Em páginas da memória, relembro as duas indústrias produtoras de óleo de soja do município, Ceval e Olvebra, e as lembranças das imensuráveis filas que percorriam a cidade, iniciando no portão da indústria e percorren­do quilômetros de ruas e avenidas decoradas com as máquinas da época, eram FNM, Scania, Mercedes 1111, 1113, o cara chata, Chevrolet, Ford, Dodge e os lançamentos. Estes tinham por obrigação aparecer na fila.

Elas retratavam o mosaico profissional, social e econômico produzido pelo transporte rodoviário de cargas no Brasil. A placa do caminhão, o sotaque do motorista e outras características identificavam a diversida­de ali presente. Filas eram locais onde se estabeleciam relações sociais, profissionais, culturais e até as econômicas com quem aparecesse para vender algo, um lugar com gramáticas próprias.

Nessa época, uma filial da empresa Transgala, cujos proprietários em­prestavam os sobrenomes Sgandella e Lazzari para a razão social, se es­tabeleceu em Pelotas com uma frota de aproximadamente 180 caminhões.

Na história da Capital Nacional do Doce, as mais de 30 indústrias de con­servas estabelecidas entre área urbana e rural, somadas a outras ativi­dades econômicas, potencializaram o mercado de transporte de cargas.

Em um processo comparativo, o espaço da coluna limita-se à capacidade de carga de um caminhão toco, na proporção do jornal todo que é um bitrem. Por tal motivo encerro por aqui esta homenagem a Pelotas, que, no último dia 7 de julho, completou 212 anos, aos colonos produtores de alimento, aos motoristas e às empresas de transporte rodoviário pelo dia 25 de julho.

Homenagem feita por um jornalista, que muito retirou e consertou arran­que, ou melhor, motor de partida desde o JD, JF da linha Mercedes ou os do Scania pesados com os automáticos auxiliares e com o Bendix expos­to. Pois, com muito orgulho, meu pai, em sua jornada existencial, foi um eletricista automotivo.

Deixo a todos esta imagem icô­nica que está chegando a meio milhão de visualizações no Ins­tagram do programa Hora Mar­cada na Rádio Tupanci, apresen­tado por esse colunista.

Terminal de cargas no Porto de Pelotas durante a enchente de maio de 2024, dia em que o ca­nal São Gonçalo saiu da sua cai­xa, invadiu o terminal portuário e o carregamento não parou.

Parabéns aos motoristas e às empresas do segmento de transporte de cargas e pesso­as nesse país com dimensões continentais.

Fonte: Expresso Embaixador in memoriam do autor

(Foto: Divulgação)

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