Folhando as páginas da história, chegamos ao ano de 1934. Ano que Manuel Marques da Fonseca Júnior, um menino que, aos 9 anos de idade, junto de sua família, vindo da terra de Pardilhó, em Portugal, para o Brasil, se estabelece no sul do Rio Grande do Sul.
E foi aqui, poucos anos mais tarde, na cidade de Pelotas que ele iniciou no ramo de transporte. O primeiro veículo a motor foi comprado em 1943, um caminhão Studebaker, adquirido com o dinheiro resultante da venda de seu primeiro investimento empresarial, o Armazém Mineral, localizado no bairro Fragata.
O Studebaker foi o início da frota. Seis anos mais tarde, em 1952, Fonseca Júnior adquiriu quatro caminhões da marca Chevrolet e, no ano seguinte, deu vida à transportadora Fonseca Junior, que se consolidou no cenário das entregas, possibilitando mais tarde a aquisição do expresso Pelotas Rio Grande, cujo nome foi alterado posteriormente para Expresso Fonseca Júnior e, hoje, Expresso Embaixador.
O nome e a história tornaram Manuel Marques da Fonseca Junior e sua sucessão familiar embaixadores de Pelotas e Zona Sul no transporte de cargas e passageiros.
Avançando duas décadas, com a construção da malha rodoviária brasileira nos idos de 1970, Pelotas se torna um ponto de intersecção das seguintes rodovias, BRs 116, 471, 392 e 293. Esta geografia colocou o município na condição de Polo Regional.
Folhando mais algumas páginas, entre as décadas de 70 e 80, um grande Parque Industrial consolidava o município como polo econômico. Usufruindo da memória e contando que esta não me cause nenhum engano, quatro grandes frigoríficos – Anglo, Cooperativa Sudeste, Riopel e Extremo Sul – abatiam milhares de cabeças de gado diariamente, atividade que produziu grande fluxo de cargas, tanto para o transporte rodoviário quanto para o marítimo através das exportações.
Em páginas da memória, relembro as duas indústrias produtoras de óleo de soja do município, Ceval e Olvebra, e as lembranças das imensuráveis filas que percorriam a cidade, iniciando no portão da indústria e percorrendo quilômetros de ruas e avenidas decoradas com as máquinas da época, eram FNM, Scania, Mercedes 1111, 1113, o cara chata, Chevrolet, Ford, Dodge e os lançamentos. Estes tinham por obrigação aparecer na fila.
Elas retratavam o mosaico profissional, social e econômico produzido pelo transporte rodoviário de cargas no Brasil. A placa do caminhão, o sotaque do motorista e outras características identificavam a diversidade ali presente. Filas eram locais onde se estabeleciam relações sociais, profissionais, culturais e até as econômicas com quem aparecesse para vender algo, um lugar com gramáticas próprias.
Nessa época, uma filial da empresa Transgala, cujos proprietários emprestavam os sobrenomes Sgandella e Lazzari para a razão social, se estabeleceu em Pelotas com uma frota de aproximadamente 180 caminhões.
Na história da Capital Nacional do Doce, as mais de 30 indústrias de conservas estabelecidas entre área urbana e rural, somadas a outras atividades econômicas, potencializaram o mercado de transporte de cargas.
Em um processo comparativo, o espaço da coluna limita-se à capacidade de carga de um caminhão toco, na proporção do jornal todo que é um bitrem. Por tal motivo encerro por aqui esta homenagem a Pelotas, que, no último dia 7 de julho, completou 212 anos, aos colonos produtores de alimento, aos motoristas e às empresas de transporte rodoviário pelo dia 25 de julho.
Homenagem feita por um jornalista, que muito retirou e consertou arranque, ou melhor, motor de partida desde o JD, JF da linha Mercedes ou os do Scania pesados com os automáticos auxiliares e com o Bendix exposto. Pois, com muito orgulho, meu pai, em sua jornada existencial, foi um eletricista automotivo.
Deixo a todos esta imagem icônica que está chegando a meio milhão de visualizações no Instagram do programa Hora Marcada na Rádio Tupanci, apresentado por esse colunista.
Terminal de cargas no Porto de Pelotas durante a enchente de maio de 2024, dia em que o canal São Gonçalo saiu da sua caixa, invadiu o terminal portuário e o carregamento não parou.
Parabéns aos motoristas e às empresas do segmento de transporte de cargas e pessoas nesse país com dimensões continentais.
Fonte: Expresso Embaixador in memoriam do autor