
Na história da economia gaúcha, há um personagem importantíssimo e, ao mesmo tempo, esquecidíssimo.
Chamava-se Antônio. Era preto. Não tinha sobrenome, como era corriqueiro entre os escravizados.
Seu proprietário era seu tocaio e tenente dos Dragões, Antônio Pinto da Fontoura, que o havia trazido de Minas Gerais para trabalhar na então Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul.
O Antônio, sem sobrenome, era inteligente e perspicaz. Percebeu um dia, passando pelas areias à beira de um arroio, que elas eram muito semelhantes àquelas existentes em Minas, onde havia trabalhado antes de mudar para o Sul e nas quais se extraia ouro. Por sua conta e risco, resolveu pesquisar e, depois de algumas lavagens, recolheu pepitas de ouro e pedaços de granito.
Bingo! Sua intuição não falhara.
Assim, naquele mês de abril de 1799, se soube que havia ouro no Rio Grande do Sul.
O tenente dos Dragões fez o que era de se esperar de um honesto servidor público da Coroa Portuguesa: entregou as amostras ao governador Veiga Cabral, que imediatamente as enviou documentadas ao Rio de Janeiro.
Mas é preciso destacar: a descoberta era maravilhosa, mas tinha que ser secreta. Uma descoberta encoberta, por contraditório que soe.
Assim, no dia 30 de abril de 1799, o governador chamou o ouvidor geral e corregedor da Comarca de Porto Alegre, Lourenço José Vieira dos Santos, o tenente dos Dragões Pinto da Fontoura e fizeram uma conferência secreta, onde um pacto foi estabelecido em torno do segredo que deveria existir em torno da preciosa revelação, proveniente da pesquisa do curioso Antônio, que obviamente não foi convidado para o colóquio.
Até hoje se extrai ouro no Rio Grande do Sul. As principais jazidas identificadas estão em Mata, São Pedro do Sul, Lavras do Sul e Camaquã. Mas há outras. Perto de Bagé parece que também tem.
Tomara que o Antônio tenha conseguido sua alforria, que tenha sido premiado, de alguma forma recompensado por sua descoberta. Sobrenome? Ah, naquela altura, era o que ele menos precisava.
Tomara que o Antônio sem sobrenome tenha conquistado sua liberdade (ainda que tardia).
Tomara!
*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista