Os velhos barbeiros

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Dos bem antigos, conheci vários barbeiros que atua­vam em Pelotas.

Dentre os mais famosos, o seu Polidori. Cabelos fartos e bran­cos, boa conversa, com um impecável tapa pó também branco, naqueles tempos em que até os professores usavam.

Bom nas tesouras, também tinha uma facilidade imensa de criar histórias engraçadas e flagrantemente inverossímeis, que atraiam muita gente ao Salão Elegante na Rua Quinze de Novembro.

Do seu repertório, uma das mais famosas foi aquela em que ele resolveu nadar muito cedo no Canal São Gonçalo e distraida­mente começou a boiar de maneira a poder ler o jornal que havia levado bem dobrado para não molhar. A força da corrente e sua distração com os assuntos o foram levando em direção à Lagoa Mirim e quando percebeu, o vento que fazia do jornal uma vela aberta o colocou dentro do Uruguai.

O freguês, atentíssimo, pergunta da cadeira onde estava cor­tando o cabelo: mas seu Polidori, ali só tem campo. Como o senhor percebeu que já estava do outro lado da fronteira?

“Muito simples. Na medida em que me aproximava da mar­gem, os pássaros levantavam voo cantando: quiero, quiero! Bem castelhanos!”.

A risada foi geral e a freguesia, mais uma vez, foi pra casa satisfeita: cabelo cortado, barba feita e uma história nova.

Houve muitos outros, como o que atendia perto do INSS, onde várias vezes cortei meu cabelo.

Seu Adelcio havia iniciado sua trajetória como esquilador.

Gostava de contar como – guri ainda – acompanhou uma com­parsa que passou por Herval.

Maneou, descascarreou e aprendeu o serviço. Em pouco tempo estava treinado na tosquia, no tempo das tesouras afiadas no rebolo, da tosa a martelo.

Tomou gosto pelo serviço, aparou o cabelo de amigos e paren­tes e quando percebeu já tinha trocado as ovelhas pelas pessoas.

No fundo, me disse um dia, apreciava mesmo era a boa con­versa do salão, coisa que com carneiros e borregos não rendia.

Até hoje, em qualquer lugar, os salões permanecem como um dos bons lugares para um bom bate-papo.

Por isso, ninguém deve estranhar quando for observar as programações de ópera nos melhores teatros do mundo. Com facilidade encontrará novas encenações do Barbeiro de Sevilha (que consagrou Rossini), As Bodas de Fígaro (de Mozart) e algu­mas outras que beberam exatamente na mesma fonte: as boas conversas entre barbeiros, cabeleireiros e seus clientes.

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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