O óbvio

Tenho minhas dúvidas a respeito do óbvio, porque parece que o óbvio não precisa ser dito por ser algo explícito e transparente.

Discordo em um primeiro momento desse modo de pensar. Dizer o óbvio é enfatizar a verdade. É dar nome a sentimentos, que embora sejam evidentes, não dispensam manifestações através de gestos ou palavras.

Por mais perspicazes que sejamos quanto ao óbvio, precisamos constatá-lo em afirmações redundantes.

É óbvio que gosto de música, mas preciso demonstrar esse apreço para que outros saibam. É inegável que a dança é uma das minhas paixões, porém, se eu deixar ao sabor do óbvio essa minha predileção poucos saberão o quanto significa para mim os gestos expressados pelo meu corpo sob os sons musicais.

É óbvio que escrever é meu ofício predileto, todavia se eu não afirmar o valor de cada pensamento meu, transformado em palavras, frases, textos e publicá-los para quem quiser ler, fico no obscuro território do invisível.

O óbvio, às vezes, não é tão óbvio assim. Precisa ser deduzido, pensado e exposto, principalmente, nesses tempos atuais plenos de reticências.

Convivemos com o talvez como forma de proteção. É mais fácil acatar suposições ao invés de realidades. Constatar o óbvio é não deixar espaço para dúvidas. E isso exige que nos posicionemos para aceitar ou não aquilo que é claro e transparente.

Quando confiamos no óbvio, o implícito, que é algo que está subentendido se torna explícito, que é algo que está expresso de forma clara.

Nem sempre o óbvio é acessível a todo mundo, a toda a gente, pois que nos faz exercitar a dedução, que envolve sensibilidade e percepção.  E como não ensinam mais nas escolas a interpretação do que está implícito, temos que buscar no explícito o entendimento do que é o óbvio.

Complicado? Nem tanto. É o óbvio.

2 comentários

Enviar comentário

Envie um comentário!
Digite o seu nome