O inventário das eleições e espólio que o pleito deixou – parte III

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Utilizamo-nos da figura de linguagem de um inventário, cujo significado corresponde a descrição detalhada do patrimônio de uma pessoa falecida ou processo de contagem de mercadorias, no qual você faz uma listagem completa com todos os itens armazenados no estoque, e da figura do espólio, patrimônio deixado pelo falecido dividido entre os herdeiros durante o processo de inventário. Dito isso, nossa intenção foi inventariar o patrimônio político construído ao longo do processo eleitoral e analisar entre partidos, candidatos e políticos com mandato quem aumentou ou diminuiu seu capital político e, sobretudo, a configuração política da Zona Sul a partir do resultado das eleições.

Passo a escrever em primeira pessoa para cumprir com o prometido, buscando de forma interrogativa, sem afirmações, analisar as vitórias do Partido dos Trabalhadores (PT) em quatro municípios da Zona Sul e um na região da campanha, sendo três deles, os maiores colégios eleitorais das respectivas regiões.

Para algumas perguntas, confesso, não ter respostas!

Por que o PT venceu as eleições em Pelotas, Rio Grande, São Lourenço do Sul, Arroio Grande – com a coligação que ofereceu o vice-prefeito – e Bagé, na região da Campanha, onde o ônibus do presidente Lula foi apedrejado?

Será que na Zona Sul o agronegócio está se distanciando do bolsonarismo?

Como três municípios que têm como principal matriz produtiva o agronegócio, uma bandeira do bolsonarismo, elegeram o PT?

No cenário analisado, São Lourenço do Sul, além da pecuária, possui cultivo de arroz e soja em grandes áreas. Por outro lado, o município conta com muitos minifúndios considerados de Agricultura Familiar. Em Arroio Grande, tanto a pecuária quanto a agricultura ocupam quase a totalidade da área rural do município, sendo a principal matriz produtiva. Já em Bagé, a base econômica é agricultura e pecuária, a criação de cavalos crioulos e outras atividades fazem parte da cadeia produtiva.

O agronegócio é responsável pelo equilíbrio da balança comercial entre tudo o que compramos de outros países e o que vendemos para o mundo.

Mas qual a participação política do agronegócio no resultado das eleições?

Será que a tecnologia empregada na agricultura, reduzindo mão de obra igualmente na pecuária, confere as duas atividades muita produtividade no campo e pouca produtividade de votos na eleição?

Por outra perspectiva, a concentração populacional nas áreas urbanas dos municípios, sejam eles grandes ou pequenos, se traduz em maior o número de pessoas na cidade, por conseguinte, maiores são as demandas por políticas públicas para atender as necessidades dessas populações.

Política pública não é uma exclusividade do PT, porém, está intimamente ligada ao pensamento progressista adotado pelos partidos que no eixo ideológico se localizam a esquerda ou na centro-esquerda. Já o pensamento liberal quer um estado mínimo, no qual a iniciativa privada assume o lugar do Estado, cobrando e executando os serviços que antes eram públicos, como por exemplo a CEEE e a Corsan. O pensamento liberal é predominante entre partidos da direita ou centro-direita.

O espaço gráfico da coluna começa me oprimir, e eu, imerso nesse emaranhado de fios condutores do pensamento, vou tentar achar algumas pontas soltas e, através de perguntas, amarrá-las. Por qual motivo a ambição política do PSDB e de Eduardo Leite se restringiu à Prefeitura de Pelotas, deixando Rio Grande de lado? Qual a importância do Porto de Rio Grande para os rio-grandinos e para a Zona Sul?

Temos um governador da região no segundo mandato, seu grupo comandou Pelotas por 12 anos, e por qual motivo o PSDB apresentou um rio-grandino que comandou o Porto de Rio Grande deixando o cargo para ser candidato a prefeito em Pelotas? Não seria mais coerente concorrer em Rio Grande, sua cidade natal?

Quem aumentou seu capital político, o PSDB que governa o Estado e perdeu a prefeitura de Pelotas ou o PT que venceu nas duas maiores cidades da Zona Sul?

Semana que vem escreverei sobre a representação judicial impetrada pelo advogado Antonio Ernani Pinto da Silva nesta semana, na tentativa de suspender o aumento de salários dos vereadores, prefeito, vice e secretários previsto para 2025.

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