O canto da sereia nas apostas on-line

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

As apostas on-line, que pareciam uma brincadeira sem consequências, viraram uma epidemia nacional e já levaram 1,3 milhão de brasileiros à inadimplência. Enquanto o governo punha o olho nos impostos que pode­riam ser arrecadados, deixou de lado um grave efeito colateral: um sonho que, na maior parte das vezes, vira pesadelo. Em especial para a popula­ção mais pobre, com pouca ou nenhuma educação financeira. Encantada com a possibilidade de resolver problemas com dinheiro “fácil”, em um lance de sorte.

O canto da sereia veio pela facilidade e o baixo custo, que “convencem” de que não vai prejudicar em nada o orçamento familiar. Não é verdade! Os números mostram que esta população já estava com a água pelo nariz e agora transbordou. Rosane de Oliveira, em um texto para o jornal Zero Hora, diz que o “governo do presidente Lula (PT) demorou para descobrir o que parecia óbvio aos olhos de qualquer um que não tenha interesses envolvidos na jogatina em que o Brasil se transformou nos últimos meses”.

Uma febre de jogos incentivados por anúncios publicitários, especial­mente na televisão, insistentemente repetidos. Estudos, tanto do gover­no e institutos quanto de universidades demonstram que as chamadas “bets” (apostas) não são tão lúdicas quanto é apresentado, mas viraram um problema de alcance nacional. Além do endividamento, tirou dinheiro de circulação, especialmente, reduzindo o consumo de bens e serviços. Sem contar que, para muitos, já virou um vício nas apostas esportivas, facilitadas pelo celular.

As “bets”, na verdade, transformaram-se num problema nacional, pelo endividamento das famílias e a dependência, com influência na saúde físi­ca e emocional. Quando alguém tenta a sorte em jogos de azar, aumenta a possibilidade de se criar uma legião de viciados a se iludir com a facilidade de uma suposta solução financeira. Agora, o governo se manifesta dizendo que considera “uma pandemia de apostas on-line” e elabora um mecanis­mo que tenta monitorar o endividamento das famílias nos jogos virtuais.

Para quem tem a memória curta, é bom lembrar que o “jogo do bicho”, por exemplo, continua proibido e, mesmo assim, o país está se transfor­mando em um cassino virtual. As denúncias e prisões recentes mostraram a ponta do iceberg. O capital que circula em tentativas on-line drena parte dos recursos da população, mas também serve (como foi comprovado) para a lavagem de dinheiro. Já vimos este filme: tudo o que é oferecido como sendo muito fácil esconde a possibilidade de se transformar num abismo de aflições…

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