Novo cangaço

Sérgio Corrêa, jornalista e radialista.

Nesta edição, é com satisfação que publicamos o texto enviado pelo senhor Vicente Sacco Netto, leitor da coluna, que, além de acompanhar os conteúdos produzidos e publicados neste espaço de jornalismo, nos prestigia com uma análise do comportamento da sociedade contemporânea materializado no texto a seguir.

O NOVO CANGAÇO

Paradoxos

Nosso país tem certos paradoxos que desafiam o raciocínio do mais indiferente ou alienado cidadão. De uns tempos para cá, verdadeiros atos de terrorismo vêm ocorrendo, principal­mente, nas pequenas localidades do interior brasileiro. Tais atos voltados contra as agências bancárias, são denominados de “O NOVO CANGAÇO “. A própria denominação, O Novo Can­gaço, tem algo de romântico e até divertido, pois a atividade dos cangaceiros, comandada por Virgulino Ferreira, o lampião, integrou-se ao folclore, ensejando músicas, filmes e outras ma­nifestações populares. Isto já é um paradoxo, pois o banditismo é decantado em prosa e verso. No Novo Cangaço, que inclui armamento pesado e máquinas retroescavadeiras, tratores, caminhões e carros menores, além de explosivos, os prédios das agências – que à noite ficam iluminados e guarnecidos por frágeis portas envidraçadas, expondo os caixas eletrônicos abastecidos de dinheiro – são destruídos. A bandidagem fica à vontade: o dinheiro está ali à disposição, basta que as portas, frágeis como já disse, sejam facilmente removidas e ultrapas­sadas pelas máquinas e pelos explosivos. Se aparecer alguém, melhor ainda, pois essa pessoa será sequestrada para servir de escudo humano. A grana tomada no assalto pode ser convertida em armas e drogas, realimentando os criminosos para novos “cangaços”. Os atentados da espécie acontecem, principalmen­te, nas pequenas localidades, cuja população constitui a clien­tela depositante das agências atacadas. Os bancos parecem não se importar muito com os ataques, pois tudo permanece na mesma, ou seja, sem providências. Será que as segurado­ras cobrem as perdas? E se cobrirem, o custo do seguro não é repassado nas tarifas que os depositantes e demais clientes pagam aos bancos? Certamente há reflexos nas taxas de juros cobradas nas operações bancárias. Mas, tenho de me reportar a um paradoxo gigantesco, motivo pelo qual estou abordando este tema: em um passado recente, quando não havia moedas de plástico (cartões de débito e crédito) e, é claro, o PIX, as agências bancárias fechavam suas portas ao final da tarde e ninguém poderia sacar dinheiro depois disso. O dinheiro, ou encaixe, era guardado em cofre que ficava no interior da casa­-forte. Os caixas (funcionários) recolhiam também a cota que lhes era fornecida para os trabalhos do dia. As portas do prédio eram hermeticamente trancadas. As chaves do cofre ficavam distribuídas entre dois ou mais funcionários, acontecendo o mesmo com o segredo da porta da casa-forte. Ninguém sacava dinheiro à noite ou na madrugada. Em caso se haver alguma transação financeira nesses períodos, o velho cheque entrava em cena. Nos dias atuais, com os cartões de débito/crédito e com o já consagrado PIX, a circulação de dinheiro em espécie está diminuindo e quase terminando. Pergunto: por que razão as casas bancárias ficam abertas até as primeiras horas da noite e por que ficam iluminadas e desprotegidas durante a madrugada com dinheiro nos terminais de atendimento para aguçar o apetite dos militantes do “Novo Cangaço”? Não co­nheço ninguém que vá sacar dinheiro nos terminais de autoa­tendimento em horários da noite ou madrugada.

Portanto, há uma maneira fácil e prática para acabar com o poético, romântico, folclórico e horroroso “Novo Canga­ço”: trocar as portas envidraçadas e iluminadas das agências bancárias por outras reforçadas e guardar o dinheiro nos cofres ou casas-fortes.

Vicente Sacco Netto – bancário aposentado e Bel. Ciências Econômicas.

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