No Passo da Chanchada

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Eis que tropas militares, percorrendo o território gaúcho, chegam na beira de um caudaloso rio. Era preciso transpô-lo, cruzá-lo, para levar até a outra margem os armamentos, munições, os petrechos todos.

Por dentro do rio, naquele momento, não era possível. O curso d’água estava muito cheio.

O general que comandava a tropa, experiente que era, determinou: “alinhem sobre a água 18 canoas, estendam madeiras sobre elas, trans­formando o conjunto em ponte”.

Quem pensa que viu recentemente essas imagens na TV ou na internet pode pensar que estou fazendo referências ao procedimento similar que o Exército Brasileiro promoveu no Vale do Taquari, permitindo que a população de Lajeado e Arroio do Meio pudesse transpor, com êxito, o rio Forqueta, depois da enchente de maio passado.

Falo, na verdade, em situação pioneira semelhante, levada a efeito pelo exército português na beira do rio Pardo, há exatos 270 anos.

O dia era 16 de agosto e o ano 1754.

O general Gomes Freire de Andrade, ainda não investido nas honras de Conde de Bobadela, no comando de uma tropa militar, determina a feitura da ponte, que certamente ficou muito forte, pois sobre ela passaram carretas tiradas a boi, cavalhada, soldados e peças de artilharia.

Hoje, ele é lembrado como patrono do departamento de ciência e tec­nologia do Exército Brasileiro. Na época, era homem forte lusitano, em terras brasileiras. Foi governador e capitão general do Rio de Janeiro por 30 anos, falecendo em 1763 – já conde – pouco tempo antes da transfe­rência da capital do Brasil de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro.

É bem possível que essa engenharia tenha sido utilizada antes em outros locais do Brasil, mas nessa parte mais meridional do país, creio que tenha sido a primeira vez que essa junção de barcos se fez.

A recente passarela do rio Forqueta permitiu com sucesso a passagem de pessoas, a pé, de um lado para o outro.

Aquela pioneira passarela do Gomes Freire de Andrade permitiu a pesada passagem de um “trem de guerra”.

Tivesse acontecido em outro país, não faltariam filmes históricos a des­crever essa façanha, talvez com roteiros bem armados, com algum amor impossível na costura do argumento, com bom elenco e perspectiva de posterior caminhada sobre algum tapete vermelho.

Mas, infelizmente, aqui não funciona assim!

Andei nesse lugar faz uns 15 anos. Havia um restaurante bem no local. Eu vinha de uma jornada extensa, cansado, sedento. Sentei junto a uma mesa e veio uma moça, com uma caneta e um bloquinho, anotar meu pedido.

Pedi a ela: por favor, me traga o cardápio.

Ela respondeu prontamente: “aqui não usamos cardápio. Servimos à lá carte!”

Pedi uma Coca-Cola e pensei com meus botões: essa cena caberia num filme do Mazzaropi.

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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